'O governo tenta achar um caminho'
O Globo, n.31904, 12/12/2020. Sociedade, p. 14
Entrevista - Flávio Dino
Adriana Mendes
Crítico ao presidente Bolsonaro, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), diz que o Ministério da Saúde tenta corrigir um erro: a aposta do governo apenas na vacina de Oxford. Para Dino, o governador João Doria (PSDB) agiu certo ao produzir a CoronaVac, como uma resposta a esse erro.
Como vê a condução do governo federal em relação à vacinação?
O problema principal é uma consequência que nós estamos vendo desde março, que é uma atitude negacionista em relação à gravidade da pandemia. Há uma terrível coerência entre aquela frase da gripezinha e a má condução da temática da vacina. Eu acho que, portanto, há confirmação de uma conduta equivocada. Houve a vinculação a uma única alternativa, que seria a vacina AstraZeneca. Na medida em que a vacina de Oxford ainda não se concluiu, o governo ficou perdido. Agora, está tentando achar um outro caminho.
Após pressão de governadores e prefeitos já há uma mudança na postura do governo?
O que eu vi na reunião com Ministério da Saúde foi um desejo de corrigir um erro, que foi cometido no dia 20 de outubro. Nesta data foi celebrado um acordo para que houvesse a multiplicidade de vacinas. Contudo, Bolsonaro mandou Pazuello rasgar o acordo, disse que quem mandava era ele. Acho que agora houve uma percepção de que, em um tema complexo como este, você tem que ter uma condução mais ampla. É isso que eu verifiquei até então, em face da pressão o governo vai correr atrás do prejuízo.
Qual avaliação em relação à postura do governador Doria?
Ele está reagindo a esse ato errado do governo federal. Quando houve esse acordo do dia 20 de outubro ficou definido que o Ministério da Saúde iria comprar as vacinas do Butantan e distribuir. Depois o governo, por intermédio do presidente, disse cabalmente que não faria isso. Bolsonaro afirmou que não usaria a chamada vacina chinesa — CoronaVac. Ora, se o Doria tem o Butantan e tem dinheiro, não é razoável imaginar que ele deveria ficar parado em face da inércia do Bolsonaro. Eu acho que ele reagiu em reação à atitude equivocada do Bolsonaro. Por isso eu não estou entre os que criticam o Doria.
O governador Caiado disse que haverá uma MP para o governo federal coordenar a distribuição das vacinas. Como avalia?
Sobre essa requisição de vacinas que tem se falado, vamos esperar o texto da medida, para analisar se é compatível com a Constituição.
O Maranhão foi ao STF para garantir compra de vacinas, sem aval da Anvisa. O estado tem um plano de ação?
Estamos acreditando num plano nacional de imunização. É o nosso desejo que ele se efetive com múltiplas vacinas. Ao mesmo tempo o que eu adotei: oficializei com o Butantan o interesse de comprar a vacina para os grupos mais vulneráveis, comprar com nossos recursos.