O GLOBO, n 32.314, 26/01/2022. Política, p. 6

MP quer acesso a ganhos de Moro, e PT recua de   CPI

Aguirre Talento, Lucas Mathias e Camila Zarur


Pré-candidato à Presidência afirma que partido adversário voltou atrás ao perceber que a iniciativa seria um 'tiro no pé'

O PT deu um passo atrás na tentativa de abrir uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara para investigar as relações de trabalho firmadas entre o ex-juiz e pré-candidato à Presidência pelo Podemos Sergio Moro e a consultoria Alvarez & Marsal. A presidente do partido, deputada Gleisi Hoffmann (PR), afirmou ontem que não vê “necessidade” na iniciativa. Moro respondeu dizendo que os petistas perceberam que o plano seria um “tiro no pé”.

A relação entre Moro e o escritório é investigada pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Adversários acusam Moro de se beneficiar de contratos entre a consultoria e empresas condenadas na Lava-Jato. A Alvarez &Marsal prestou serviços para firmas que fizeram acordos de leniência com o Estado após serem investigadas na operação. Na semana passada, o TCU levantou o sigilo da rentabilidade do escritório no período em que Moro trabalhou. A consultoria faturou R$ 65 milhões em contratos firmados com empresas alvo da Operação Lava-Jato. Moro diz que não teve participação nem teve ganhos relativos a esses contratos.

Em paralelo, o Ministério Público junto ao TCU propôs que a Corte requeira ao Banco Central os dados de quanto ele recebeu em salário. Aliados de Moro dizem que ele abrirá os números quando achar apropriado.

Gleisi disse, em entrevista ao “UOL”, que o PT está “fazendo estudos jurídicos” para avaliar o melhor caminho para apurar os ganhos de Moro.

— Esperamos que o TCU compartilhe conosco os documentos sobre o caso — disse a parlamentar, que também criticou a postura de Moro. — Fico espantada que ele não venha a público dizer quanto ganhou. Ele sempre pregou transparência. Quebrou o sigilo do expresidente Lula e de tanta gente para supostamente dar transparência...

Como O GLOBO revelou, o deputado Paulo Teixeira (PT-SP) havia anunciado a intenção de colher assinaturas para a instalação de uma CPI que apuraria o suposto “conflito de interesses” por parte de Moro. Procurado após a entrevista de Gleisi, Teixeira confirmou que o plano foi adiado.

Diante da mudanças de planos, o pré-candidato ao Planalto reagiu nas redes sociais. “O PT recuou da ideia de criar uma CPI contra mim. Percebeu que além de não haver justificativa legal, seria um tiro no pé, pois a CPI seria uma oportunidade de relembrar aqueles que realmente receberam suborno das empresas investigadas na Lava Jato”, publicou Moro.

O procurador do Ministério Público junto ao TCU Lucas Rocha Furtado propôs que o órgão peça ao Banco Central e ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf ) informações sobre os honorários recebidos por Moro durante o período em que ele prestou serviços ao escritório Alvarez & Marsal. O GLOBO apurou, contudo, que o ministro responsável pelo processo em tramitação no tribunal, Bruno Dantas, só deverá decidir sobre o pleito do MP na semana que vem.