'Política de vacinação é nacional'

O Globo, n.31904, 12/12/2020. Sociedade, p. 14

Entrevista - Ronaldo Caiado 

Maiá Menezes 

Um dia antes de postar em seu perfil no Twitter que o governo federal prepara medida provisória para coordenar a distribuição de todas as vacinas contra Covid-19, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), rechaçou totalmente a ideia de que cada estado tenha sua política de compra de vacinas.

Qual sua estratégia de Goiás para debelar a Covid-19?

Fui o primeiro governador a fechar (lockdown), dia 12 de março. Tive o tempo de fazer com que a curva tivesse crescimento gradual e lento, até chegar em julho. Já tinha mais de 700 leitos, sem que tivesse o colapso hospitalar. Hoje temos 45% de ocupação dos leitos de UTI. E 42% de enfermaria. Não desativei nenhum leito. A perspectiva é De não ser pego no contrapé.

 Sobre a vacina, o senhor disse: “Foi a melhor notícia dos últimos tempos”. Como Goiás vai se inserir na compra?

Entenda. Eu sou o único governador médico. Tenho que fazer aqui uma análise como governador e como médico de profissão. Não dá para imaginar e muito menos acreditar que diante de uma pandemia a política de vacinação não seja nacional. Neste momento, eu não posso admitir que a responsabilidade seja repassada aos estados. Porque isso vai ser desumano. É inaceitável. Porque, isso sendo aplicado, você iria selecionar brasileiros não pelo grupo de risco. Os estados mais ricos terão mais facilidade e os estados mais pobres estarão jogados ao léu. Tem que tratar uma federação não com o pensamento de que quem mora em São Paulo e tem o Butantan, quem mora no Rio tem a Fiocruz e o cidadão que mora fora desses estados está entregue à sorte sem prognóstico de quando será vacinado.

 É contra que cada governador tenha sua política?

Isso é inaceitável para mim. Seria a negação completa do Ministério da Saúde não assumir definitivamente o comando e a distribuição das vacinas. Não existe vacina de São Paulo e do Rio. Tem vacina dos 220 milhões de brasileiros. Ela pode ser distribuída em qualquer lugar do Brasil, mas imediatamente tem que ser distribuída pelo Ministério da Saúde, que imediatamente distribuirá aos estados.

 A primeira reação do presidente Bolsonaro foi contrária à vacina. Foi uma reação política?

Estamos tratando de um tema muito sério, que são vidas humanas, tão relevantes. Seja qual for a vacina que tiver a certificação, temos o dever de aderir. A história da distribuição em São Paulo, anunciada pelo governador, vai provocar rebelião, tumulto, desobediência civil. A única solução é um regramento geral comandado pelo governo federal.

Vê viés eleitoral, portanto?

Não dei relevância a isso. Essa disputa política entre o Doria e o presidente não pode ser preocupação minha. Esse viés eleitoral, ao se colocar como precursor da vacina, é uma irresponsabilidade.