O GLOBO, n 32.314, 26/01/2022. Economia, p. 11
FMI reduz previsão de crescimento do Brasil para 0,3 %
Estimativa para economia global recua de 4,9% para 4,4%, com inflação maior e disseminação da variante Omicron
O Fundo Monetário Internacional (FMI) rebaixou sua previsão para o crescimento da economia brasileira em 2022 para perto de zero. A projeção caiu do 1,5% divulgado em outubro para 0,3%. Essa projeção é semelhante à do mercado brasileiro, de 0,29%.
“O combate à inflação disparou uma dura resposta da política monetária, que vai pesar na demanda doméstica”, afirmou o FMI sobre o Brasil, na atualização do relatório Panorama Econômico Global.
O Fundo rebaixou as estimativas de crescimento para a economia global, de 4,9% para 4,4%. Para os países desenvolvidos, a projeção ficou em 3,9%, contra 4,5% anteriormente. Já para o conjunto de economias emergentes e em desenvolvimento, a previsão passou de 5,1% para 4,8%.
“A economia global começa 2022 em uma posição mais fraca que o esperado anteriormente. Enquanto a nova variante Ômicron da Covid-19 se dissemina, os países restabelecem as restrições de mobilidade. A alta dos preços de energia e as interrupções na cadeia global de suprimentos levaram a uma inflação mais elevada e ampla do que esperado, notadamente nos Estados Unidos e em muitas economias emergentes e em desenvolvimento”, afirma o relatório.
‘RECUPERAÇÃO CONTURBADA’
Em seu blog, a primeira vice diretora-gerente do Fundo, Gita Gopinath, cita ainda “os níveis recordes de endividamento”, que, com uma inflação em alta, contribuem para limitar a capacidade de muitos países em lidar com os novos transtornos.
No texto, intitulado “Uma recuperação global conturbada”, Gita ressalta ainda que os desequilíbrios entre oferta e demanda devem diminuir ao longo deste ano. “Por conseguinte, desde que as expectativas inflacionárias continuem ancoradas, espera-se que a inflação recue em 2023.”
Na região de América Latina e Caribe, o crescimento será de 2,4%, contra 3% previstos em outubro. Assim como o Brasil, a estimativa do México também sofreu um corte de 1,2 ponto percentual, de 4% para 2,8%.
O relatório cita inflação, políticas monetárias mais duras, além da previsão de avanço menor da economia americana, como fatores-chave para as novas estimativas.
O México, diz o Fundo, será impactado pelas mesmas variáveis, adicionando ainda um já esperado declínio na economia americana, o mais importante parceiro comercial do país vizinho.
“O rebaixamento (do crescimento) dos EUA traz a perspectiva de uma demanda externa menor que a prevista para o México em 2022”, diz o FMI.
A projeção para a economia americana também recuou em 1,2 ponto percentual, de 5,2% para 4%. No caso específico dos EUA, o Fundo cita a melhora no mercado de trabalho, que resultou em aumento dos salários e, consequentemente, pressão nos preços. Isso levou o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) a prever a elevação dos juros mais cedo que o previsto.
A China, segunda maior economia do mundo, deve crescer 4,8% este ano, segundo o FMI. Em outubro, a projeção era de 5,6%. No caso da China, a grande preocupação é a crise no mercado imobiliário local, “que serviu como um prelúdio para uma desaceleração mais ampla”.
AVANÇO DA VACINAÇÃO
Para 2023, o Fundo melhorou sua projeção de crescimento, de 3,6% para 3,8% — ainda assim, uma desaceleração frente a este ano. O relatório ressalta, no entanto, que isso depende de a pandemia ceder na maioria dos países até o fim de 2022, com o avanço da vacinação e de uma maior eficácia no tratamento da Covid.