Correio Braziliense, n. 22624, 27/02/2025. Brasil, p. 6

Mais pretos e pardos obtêm vagas em cursos superiores
Maria Beatriz Giusti


Dados do Censo 2022 da Educação, divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que a população preta com nível superior completo aumentou 5,8 vezes — saiu de 2,1%, em 2000, para 11,7% em 2022. Já a população parda formada em uma universidade cresceu 5,2 vezes — era 2,4%, em 2000, e saltou para 12,3%, em 2022.

Apesar disso, as diferenças raciais permanecem. O percentual da população branca com o mesmo nível de educação variou de 9,9%, em 2000, para 25,8%, em 2022. Esse percentual é duas vezes maior do que o de pretos ou de pardos.

As graduações mais concorridas, segundo o Censo 2022 da Educação, têm um percentual muito maior de brancos cursando. Em 2022, 75,5% das pessoas com graduação em medicina eram brancas, enquanto 19,1% eram pardas e apenas 2,8% eram negras. Nos cursos de odontologia, economia e direito, o percentual de pardos não passava dos 25%. No curso de serviço social, porém, o percentual é mais equilibrado: 47,2% dos formados são brancos, 40,2% são pardos e 11,8%, pretos.

Isso representa que 16 milhões de pessoas com ensino superior completo são brancas, 7,5 milhões pardas e 1,8 milhões, pretas — além de 300,4 mil amarelas e 54 mil indígenas.

Crescimento linear

De acordo com o analista de divulgação Bruno Perez, o crescimento de pessoas com nível superior completo ocorreu em todas as raças. "Comparando os resultados de 2022 com as operações censitárias anteriores, nota-se que o aumento da proporção de pessoas com nível superior ocorreu para todos os grupos de cor ou raça", frisou.

Para José Aguilera, secretário-executivo do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (CRUB), o indicador de desigualdades entre a população negra e parda e a branca com formação superior indica a necessidade de ações afirmativas complementares para fixar os jovens pretos e pardos na universidade.

O progresso no número de pessoas pardas e negras nas universidades, segundo Aguilera, pode ser atribuído a fatores, como a expansão da oferta no ensino superior, implantação da Lei de Cotas, em 2012, e o maior número de bolsas de estudo em faculdades particulares

Para Aguilera, os cursinhos pré-vestibular de base comunitária também têm oferecido novas oportunidades de preparação ao ensino superior para pretos e pardos da periferia. "Em Brasília, por exemplo, temos 18 cursinhos pré-universitários", observa, acrescentando que, uma vez conquistada a vaga na universidade, o desafio passa a ser permanecer estudando.

"O maior desafio reside na permanência dessa juventude (na faculdade). Programas como o Pé-de-Meia e o Mais Professores vêm reforçar o aumento de oportunidades para jovens de baixa renda, pretos, pardos, indígenas e PCD, oriundos de escolas públicas", expõe.