Título: Dois consórcios disputam Jirau hoje
Autor: Severo, Rivadavia
Fonte: Jornal do Brasil, 19/05/2008, Economia, p. A17

Analistas acreditam em favoritismo na compra de segunda usina do Complexo Madeira.

Brasília

Analistas apostam em uma disputa bastante acirrada hoje, em Brasília, no leilão da hidrelétrica de Jirau (3.300 megawatts de capacidade instalada), a segunda usina do Complexo Madeira, com leve favoritismo para o consórcio liderado pela Odebrecht/Furnas.

O único adversário, o consórcio encabeçado pela Camargo Corrêa, porém, entrará para a disputa mais fortalecido, em relação ao primeiro leilão, o de Santo Antônio, por causa da parceria com o grupo franco-belga Suez.

O leilão de Jirau está marcado para 14 horas e será realizado via sistema eletrônico em ambiente fechado. O preço-teto estipulado para o certame é de R$ 91 megawatt-hora (MWh). Ganha o pregão o consórcio que der o menor lance. A previsão do governo é que as primeiras turbinas da hidrelétrica entrem em operação em 2013 e estejam em plena carga em 2015.

Especialistas divergem em relação ao preço que será oferecido pelo consórcio vencedor para arrematar o empreendimento. As apostas para o valor da energia gerada por Jirau vão de R$ 70 a R$ 85 por MWh.

¿ Seguramente quem ganhará o leilão será o consórcio Jirau Energia, liderado pela construtora Odebrecht e pela estatal Furnas, com um lance entre R$ 70 e R$ 78 o MWh ¿ diz Humberto Viana Guimarães, consultor de energia. ¿ Será uma tremenda surpresa para o mercado qualquer resultado diferente disso.

Conhecimento de causa

Guimarães justifica a afirmação dizendo que "a empresa conhece o empreendimento e, como já ganhou o leilão da hidrelétrica de Santo Antônio, em dezembro de 2007, terá condições de otimizar os custos, por causa da proximidade das duas barragens".

Odebrecht e Furnas foram os responsáveis pelos estudos de viabilidade das usinas do Complexo Madeira, e usaram esta vantagem para ganhar o leilão de Santo Antônio, ao darem o menor lance para o preço da energia (R$ 78,87 MWh), valor que representou um forte deságio de 35% em relação ao preço máximo estabelecido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para a usina, de R$ 122 o MWh.

Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), classifica a disputa como "equilibrada, mas com favoritismo para a Odebrecht/Furnas".

¿ Esse leilão será um pouco diferente. Em primeiro lugar porque são apenas dois consórcios concorrendo ¿ pondera o diretor. ¿ Em segundo, porque no leilão de Santo Antônio a dupla Odebrecht/Furnas tinha obrigação de ganhar, pois já havia investido muito dinheiro para realizar os estudos de viabilidade. Agora a obrigação é menor.

Apesar de acreditar no favoritismo do grupo, Pires aposta em um deságio menos expressivo que o oferecido no arremate da outra usina:

¿ No máximo eles chegarão a R$ 85 o MWh.

Nivalde de Castro, coordenador do grupo de estudos do setor elétrico da Universidade Federal do Rio (UFRJ), acredita em uma competição acirrada.

¿ Os dois grupos são fortes, mas o grupo da Odebrecht/Furnas é o favorito. É preciso pensar que esse consórcio está tratando do assunto Rio Madeira há pelo menos seis anos contra apenas oito meses de envolvimento da Suez e Camargo Corrêa ¿ diz.

Castro acredita que, com conhecimento profundo do empreendimento, o consórcio pode definir com precisão o custo da usina: ¿ O valor do investimento está previsto em R$ 8,7 bilhões, mas estudando a obra é possível definir o custo com precisão.

Lúcio Reis, superintendente executivo da Associação Nacional dos Consumidores de Energia (Anace), prefere não prever quem será o vencedor, mas acredita que o preço do MWh ficará em torno de R$ 78, ou seja, mesmo valor do definido no leilão de Santo Antônio.

Porém, percentualmente, caso o preço fique em R$ 78 MWh, o deságio será de 14%, portanto bem abaixo dos 35% oferecido no primeiro certame.

Para Reis, da Anace, se a Odebrecht levar, haverá a facilidade logística, já que o grupo estará construindo, simultaneamente, a usina de Santo Antônio. Mas do outro lado, há a Suez que normalmente tem estratégias agressivas.

A Suez, ao lado da Camargo Corrêa, Chesf e Eletronorte, já partiu para uma estratégia inovadora e ousada ao fechar um "pré-leilão", realizado na sexta-feira ¿ o resultado não foi divulgado ¿ um dia útil antes do certame para construção da usina.

O objetivo foi definir os preços de 30% da eletricidade a ser gerada por Jirau que obrigatoriamente deve ser negociada no mercado livre.

¿ Com a definição de 30% do preço, fica mais fácil calcular o valor do deságio a ser oferecido ¿ completa Reis, da Anace.

Castro, da Gesel/UFRJ, também ressalta o bom momento econômico que o Brasil está passando.

¿ Já alcançamos investment grade, além disso as condições de empréstimo do BNDES estão melhores agora que na época de Santo Antônio ¿ diz.

O fundo de investimentos do FGTS, criado em outubro de 2007 como parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), tem R$ 2 bilhões disponíveis para a usina, segundo a Caixa Econômica. O BNDES também melhorou as condições de financiamento, e o prazo para liberação dos recursos é até o fim deste ano.