O GLOBO, n 32.314, 26/01/2022. Política, p. 6
Para vencer barreira, Rede quer lançar Marina à Câmara
Bianca Gomes
Objetivo é que ex-ministra seja 'puxadora de votos' e ajude sigla a superar cláusula e manter verbas e tempo de televisão
Em busca de garantir o acesso ao fundo partidário e ao tempo de propaganda no rádio e na TV, dirigentes da Rede Sustentabilidade convidaram a ex-senadora Marina Silva para disputar o cargo de deputada federal por São Paulo. Ex-ministra do Meio Ambiente na gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Marina foi três vezes candidata à Presidência e é vista como um quadro estratégico para atrair os votos necessários para a sigla atingir a cláusula de barreira na eleição.
Na última disputa ao Palácio do Planalto, a ex-senadora terminou em oitavo lugar, com 1% dos votos válidos. O desempenho foi bem abaixo do pleito de 2014, quando ocupou a terceira posição com 22,1 milhões de votos, o equivalente a 21,32% dos eleitores —ela também foi a terceira em 2010. Aliados de Marina acreditam que ela tem boa entrada em São Paulo, onde recebeu 5,7 milhões de votos, em 2014 e 262 mil em 2018.
—A candidatura da Marina é uma vontade de todo o partido. Pensando na legenda, teremos uma grande ajuda no cumprimento da cláusula de barreira, já que ela é uma liderança expressiva, que disputou três vezes a Presidência e é defensora do meio ambiente, pauta que foi desmontada pelo governo Bolsonaro — disse o porta-voz da Rede em São Paulo, Giovanni Mockus.
A ex-senadora Heloísa Helena, porta-voz nacional da sigla, também ressaltou a atuação na área ambiental como um dos motivos para Marina ser candidata à Câmara:
— Estamos trabalhando muito para garantir a presença dela (Marina) no Congresso Nacional, para representar como deputada federal a linha programática que justifica a existência da Rede. Não somos os primeiros, nem os únicos, mas temos a maior liderança política na área (ambiental).
Em nota, Marina disse que ainda não tem uma decisão sobre o assunto, mas continua avaliando qual é a melhor forma de dar sua contribuição “para a difícil realidade política do país”.
Segundo Mockus, o partido espera uma resposta para os próximos 30 dias.
— Ela está estudando os números, as votações que teve no estado para a Presidência e conversando com pessoas de seu entorno. Ainda é um momento de avaliação, mas só de estar pensando é um indicativo.
A candidatura de Marina é vista por dirigentes partidários como uma importante estratégia para atingir a cláusula de barreira, mecanismo adotado para reduzir a fragmentação partidária no país. O lançamento é tido como relevante ainda que saia do papel a federação com o PSOL, outro mecanismo em análise para ajudar a superar o piso necessário.
CONVERSAS COM PSOL
Pela regra, ficam sem acesso aos fundos partidário e eleitoral e ao tempo de propaganda eleitoral toda legenda que não conseguir pelo menos 2% dos votos válidos na eleição para a Câmara, distribuídos em ao menos um terço das unidades da federação, com 1% dos votos válidos em cada uma delas. Outra opção para não ficar sem os recursos é eleger pelo menos 11 deputados, distribuídos em um terço dos estados.
Além da candidatura de Marina, a Rede também costura uma federação com o PSOL para manter o partido vivo. A última reunião entre as duas legendas ocorreu na semana passada, após encontro entre o senador Randolfe Rodrigues (Rede), o presidente do PSOL, Juliano Medeiros, e o pré-candidato do PSOL ao governo de São Paulo, Guilherme Boulos. O principal entrave entre as duas siglas é o apoio a Lula no primeiro turno, movimento que a Rede não deve fazer, e o PSOL ainda avalia.
Este ano, além de ser cotada para disputar a Câmara dos Deputados, a ex-senadora também foi citada como uma possível vice na chapa do ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT). Até agora, no entanto, lideranças da Rede dizem que não houve um convite formal ao partido ou mesmo pedido de reunião.