O GLOBO, n 32.315, 27/01/2022. Política, p. 9
Ex-juiz diz que vai revelar valores recebidos de consultoria
Julia Lindner
Presidenciável não queria aparentar que cedia à pressão do TCU e resistiu; aliados veem chance de enterrar o assunto
Em reação aos questionamentos de adversários e do Tribunal de Contas da União (TCU), o pré-candidato à Presidência Sergio Moro (Podemos) anunciou que vai revelar amanhã os valores que recebeu pelos serviços prestados à consultoria Alvarez & Marsal, onde atuou após deixar o Ministério da Justiça.
Ele foi aconselhado por aliados a divulgar os honorários, mas vinha resistindo porque não queria passar a ideia de que estava cedendo à pressão. Segundo pessoas próximas, Moro ficou incomodado com a decisão do TCU de abrir um processo para investigar suas relações profissionais, o que considera abusivo, e sobretudo com a ameaça de parlamentares do PT de colher assinaturas para abrir uma CPI sobre o tema.
O objetivo de Moro é rebater as suspeitas de que possa ter se beneficiado de contratos assinados entre a consultoria e empresas investigadas na Lava-Jato, para tentar enterrar o assunto antes que ele ganhe mais força. Ele avaliou que o momento é mais oportuno porque a criação de uma possível CPI arrefeceu.
“Não estou cedendo ao TCU. O TCU está abusando, mas eu quero ser transparente, como toda pessoa pública deve ser”, disse Moro, em vídeo divulgado ontem.
Na terça-feira, o procurador do Ministério Público junto ao TCU Lucas Rocha Furtado propôs que o órgão obtenha informações junto ao Banco Central e ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf ) a respeito dos honorários recebidos pelo ex-ministro. O objetivo seria verificar se houve ou não conflito de interesses.
A Alvarez & Marsal administra o processo de recuperação judicial da Odebrecht. Documentos do processo mostram que o escritório no Brasil recebeu R$ 65 milhões de empresas investigadas na operação. A consultoria diz que o ex-juiz não atuava em processos envolvendo essas firmas, mas o procurador argumenta que ele pode ter se beneficiado de recebimentos indiretos.
A equipe de Moro considera que a ação do TCU não tem fundamento porque quem nomeia o administrador da recuperação judicial é o juiz responsável, a quem também cabe acompanhar e fiscalizar os serviços.
No campo político, aliados defendem que Moro se posicione para “virar o jogo”. O pagos por empresas investigadas na Lava-Jato Os valores foram recebidos pelo escritório da Alvarez & Marsal no Brasil deputado Bozzella (PSL-SP) diz que Moro é alvo de uma “perseguição” de parte da classe política por sua atuação como magistrado:
— Como ele não tem nada para esconder, dá ainda mais força. O homem público tem que estar preparado para qualquer tipo de ataque. Se continuar esse tipo de patrulhamento, dá a oportunidade de ele se expor ainda mais para a sociedade de uma forma diferente, sem prejuízo para a sua imagem.
Outro aliado de Moro, o senador Marcos do Val (Podemos-ES) concorda que o pré-candidato deve se manifestar logo para evitar ruídos:
— Ele não precisava esperar mais à frente, porque esse assunto pode render mais, então tem que matar logo na fonte.