Título: Delegado não pretende tomar depoimento de Dilma Rousseff
Autor: Quadros, Vasconcelo
Fonte: Jornal do Brasil, 22/05/2008, País, p. A6

Erenice, citada no depoimento à CPI, também está livre de suspeita.

Brasília

A menos que surja um fato novo no andamento das investigações, a chefe da Casa Civil, Dilma Roussef já pode se considerar livre do inquérito da Polícia Federal que apura o vazamento de informações sobre os gastos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e de sua família com cartões corporativos do governo. O delegado Sérgio Menezes, responsável pelo caso, disse ontem que não vê necessidade nem de convidar a ministra a prestar depoimento no inquérito, que até agora só indiciou um funcionário de terceiro escalão do Palácio do Planalto, o ex-chefe de Controle Interno da Casa Civil, José Aparecido Nunes Pires. Menezes também não vê necessidade, de intimar a secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra, braço direito de Dilma.

No depoimento que prestou à Polícia Federal, reafirmado anteontem na CPI dos Cartões Corporativos, o assessor do senador Álvaro Dias (PSDB-PR), André Fernandes, afirmou que ouviu de Pires que Erenice encomendara o dossiê. Pires negou e, ao ser interrogado nos mesmos órgãos, disse que o único personagem a tratar do levantamento de dados para as planilhas com os gastos do governo anterior foi o secretário de Administração, Norberto Timóteo, que pediu a ele dois a designação de dois funcionários para a tarefa. Por ter tido seu nome citado sem contestação, Timóteo deve ser intimado a prestar depoimento. Se já não serviu para gerar fatos dentro da CPI, esse tipo de revelação terá importância mais reduzida ainda no inquérito policial. É provável que a cadeia de responsabilidades pelo vazamento de informações se restrinja mesmo ao terceiro escalão do governo e, assim mesmo, sem entrar no mérito da finalidade política de quem encomendou as planilhas que a oposição chama de dossiê.

Laudos prontos

Embora não revele, o delegado Sérgio Menezes já tem os laudos periciais sobre sete computadores da Casa Civil usados para armazenar os dados e confeccionar as tabelas. Os indícios reunidos até agora pela polícia permitiram apenas o indiciamento de Pires e, assim mesmo, pelo fato de ele deixar de manter o sigilo sobre informações que tinha obrigação de proteger. É provável que o delegado ainda enquadre mais ou ou dois funcionários do governo antes de encerrar as investigações. Mas até agora não há fatos ou perspectivas de revelações que possam alcançar Dilma ou Erenice. Por outro lado, a mesma circunstância beneficia a oposição, que não precisará explicar como as informações repassadas por Pires a André Fernandes chegaram à revista Veja e, depois, com planilhas e tudo, nas páginas do jornal Folha de S. Paulo. Os governistas queriam responsabilizar o senador Álvaro Dias pelo vazamento.

¿ Não há liame subjetivo entre o senador, André Fernandes e Aparecido Pires ¿ disse ontem o delegado Sérgio Menezes, usando a tecnicalidade juridiquês para explicar que não há conexão. Segundo ele, não foi o assessor de Dias quem pediu que os dados fossem remetidos. O delegado afirma também que o inquérito está concentrado no vazamento das informações sigilosas do governo.

¿ A confecção (do dossiê) para constranger alguém não está clara ¿ disse o delegado. ¿ Não há ainda data precisa, mas as investigações devem ser encerradas nos próximos dias, assim que os laudos sobre os outros seis computadores da Casa Civil estiverem prontos.

As conclusões não devem ser muito diferentes da sindicância do Instituto de Tecnologia da Informação, do Gabinete de Segurança Institucional, apontando que o e-mail que chegou a Fernandes partiu do computador de Pires.