Valor Econômico, 21/05/2020, Brasil, p. A2

Empresas advertem Brasil por ‘PL da grilagem’

Camila Souza Ramos


O Burger King do Reino Unido, a varejista britânica Tesco, a Moy Park, controlada pela JBS, e outras 38 empresas e organizações estrangeiras enviaram carta aberta aos parlamentares brasileiros afirmando que a aprovação do projeto de lei (PL) 2633/2020 - batizado de PL da Grilagem - pode estimular o desmatamento na Amazônia e, assim, colocar em risco a continuidade de suas compras de matérias-primas do Brasil.

No documento, as companhias e entidades afirmam que estão “profundamente preocupadas” com o projeto, que foi apresentado no último dia 15 pelo deputado Zé Silva (Solidariedade-MG), já que a MP que versava sobre o tema perdeu validade.

Além de companhias que compram produtos agropecuários brasileiros, como processadores de carne e varejistas, assinam também o manifesto cooperativas estrangeiras, fundos de pensão, companhias de investimento, organizações filantrópicas e outras sem fins lucrativos.

O grupo inicia a carta afirmando que a Amazônia é uma das regiões mais vitais do planeta por causa de seu papel como regulador climático global, na manutenção dos ciclos das águas e por abrigar 10% das espécies conhecidas - e lembra dos casos de desmatamento e queimadas na região em 2019.

Essas empresas, investidores e entidades defendem que proteger a Amazônia “é economicamente mais atraente do que destruí-la”, e que novos riscos de devastação devem ser evitados.

O projeto de lei, dizem, “ legalizaria a ocupação privada de terras públicas, concentradas principalmente na Amazônia. Caso a medida seja aprovada, incentivará a apropriação de terras e o desmatamento generalizado, o que colocariam em risco a sobrevivência da Amazônia e o cumprimento das metas do Acordo de Mudança Climática de Paris, além de prejudicar os direitos das comunidades indígenas e tradicionais”, afirmam as companhias e entidades.

As empresas dizem ter interesse em continuar a comprar do Brasil e a investir no país, e acrescentam que querem garantir que “a proteção da Amazônia possa ser economicamente produtiva para todos”.

“Pedimos que o governo brasileiro reconsidere sua posição e esperamos continuar a trabalhar como parceiros no Brasil para demonstrar que o desenvolvimento econômico e a proteção ambiental não são mutuamente excludentes”, conclui o documento.