O GLOBO, n 32.315, 27/01/2022. Economia, p. 13
IPCA-15 de janeiro fica em 0,58% , maior que o esperado
Julia Noia
Em 12 meses, índice que é a prévia da inflação oficial está em 10,2%. Resultado já provocou revisão para cima da taxa para o ano
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo -15 (IPCA -15), prévia da taxa oficial, caiu em janeiro para 0,58%, refletindo a queda no preço dos combustíveis, conforme divulgou o IBGE ontem. Em dezembro, fora de 0,78%. O índice de janeiro, porém, veio acima das projeções do mercado, de 0,42% a 0,44%.
A inflação mais alta do que o esperado já está provocando revisões para o IPCA fechado do ano. O Itaú aumentou a projeção de 5% para 5,3%. Espera altas maiores em aluguel e itens indexados.
Em 12 meses, o índice acumula alta de 10,2%. A meta estipulada pelo Banco Central para este ano é de 3,5%, podendo chegar a 5%, considerando a margem de tolerância.
Oito dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados pelo IBGE tiveram alta em janeiro. Alimentos e bebidas puxaram a inflação no mês, subindo 0,97%, com alta que surpreendeu analistas.
A subida é explicada principalmente pelo aumento de chuvas no fim de 2021 e da seca na Região Sul, que afetaram colheitas importantes, como o café, que ficou 6,5% mais caro.
A economista da XP, Tatiana Nogueira, explica que há reflexo na safra de grãos e produção de gado.
—Estamos sob o efeito do La Niña, que leva mais chuvas para Norte e Nordeste e menos para o Sul. Isso prejudicou a safra de grãos, como soja e milho, e mexeu também no preço de proteína animal, por causa da ração mais escassa e cara —diz Tatiana, que projeta inflação de 5,2% este ano.
Aluguel (1,55%) e gás encanado (8,4%) também pressionaram o índice. A energia elétrica, que tem forte peso no indicador e foi uma das vilãs em 2021, contribuiu pouco desta vez, com alta de 0,03%.
O grupo transportes ajudou a trazer a inflação para baixo, com queda de 0,41%. A principal influência para isso foi o recuo de 1,78% na gasolina e de 18,21% em passagens aéreas.
Na avaliação do professor de Economia do Ibmec Thiago Moraes, a estabilidade no preço da energia elétrica mostra que o item que pressionou a inflação em 2021 pode conter o índice agora:
— Já vemos melhora nas condições hídricas, o que aliviou o setor elétrico e deve levar à redução de tarifas este ano.
Já a redução nos combustíveis não deve se manter nos próximos meses, diante do aumento da cotação do petróleo. Nas últimas semanas, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) vem captando alta de preço nas bombas.