Título: Minc toma posse em meio a dois desafios
Autor: Correia, Karla
Fonte: Jornal do Brasil, 27/05/2008, País, p. A4

Lula tenta acabar desentendimento com Blairo Maggi.

Brasília

O novo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, toma posse do cargo hoje enfrentando duas situações indigestas. A primeira, que deve ser assunto de reunião do ministro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, será resolver o tiroteio que vem travando com o governador do Mato Grosso, Blairo Maggi no debate sobre desmatamento.

Lula quer, a todo custo, silenciar a querela entre o novo ministro, que abriu fogo contra Maggi tão logo tornou pública a notícia de que assumiria a pasta do Meio Ambiente, e o governador, que não deixou por menos e ameaçou boicotar a idéia-mãe de Minc ¿ a instituição de uma guarda nacional ambiental. A intenção do presidente é colocar governador e ministro na mesma mesa para resolver os atritos, longe de olhares externos.

Isso porque a cizânia tem um efeito colateral que Lula quer ver longe de seu governo. O noticiário internacional considerou negativa a saída da ministra Marina Silva do comando do Meio Ambiente. O atrito entre Minc e Maggi, encorpado pelo apoio do ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, à posição do governador, transmite uma imagem ainda mais negativa do governo brasileiro no debate mundial sobre políticas ambientais.

"Casca de banana"

O segundo sapo que Minc terá de engolir diz respeito ao licenciamento ambiental da usina nuclear de Angra III, que hoje percorre as etapas finais da licença prévia e aguarda, apenas, a manifestação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama).

O assunto é reconhecido pelo novo ministro como uma "casca de banana atômica" em sua biografia de ambientalista. Opositor histórico à energia nuclear ¿ lutou abertamente contra a obra em seus mandatos de deputado estadual e de secretário de Meio Ambiente no governo do Rio ¿ Minc não tem como fazer frente, ao mesmo tempo, à bancada ruralista no Congresso, ao ministro da Agricultura e governadores. E ainda encarar a oposição da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, que é, dentro do governo, uma das principais defensoras da construção da usina.

Arestas

O atrito entre as pastas de Meio Ambiente e de Agricultura, envolvendo governos estaduais, assumiu seu lado público desde que, no início do ano, saíram as notícias de crescimento do desmatamento na região amazônica. Na época, Stephanes e Marina Silva entraram em franco desacordo sobre os motivos da elevação no corte de árvores, o que irritou o presidente Lula. Firme na tentativa de se pautar pela continuidade em relação à gestão de Marina, Minc comprou a briga.

Também criou arestas com as Forças Armadas, com a sugestão da guarda florestal para a Amazônia. Os militares refutaram a idéia, com o argumento de terem um contingente insuficiente de homens para dar conta da missão. O ministro de Assuntos Estratégicos e coordenador do Plano Amazônia Sustentável (PAS), Mangabeira Unger, aproveitou a deixa. Aderiu à visão dos militares e também atacou aquele que seria o principal projeto apresentado por Minc ao presidente Lula. O novo ministro viu-se forçado a capitular da idéia, ao menos provisoriamente.