Correio Braziliense, n. 22629, 04/03/2025. Política, p. 3

Direita em silêncio
Israel Medeiros


O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus familiares não deram qualquer declaração pública sobre a premiação de Ainda estou aqui no Oscar.

O vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ) e o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) se limitaram a compartilhar críticas de apoiadores do pai à vitória do filme na premiação. Um post compartilhado por Carlos criticava o fato de os “esquerdistas” comemorarem uma premiação dada a um diretor herdeiro de banqueiro, referindo-se a Walter Salles, que tem participação de 33% no Banco Itaú.

Embora a maior parte dos políticos de direita tenha seguido o caminho da família Bolsonaro e silenciado sobre o Oscar, houve congressistas do PL que comemoraram e foram duramente criticados por seguidores. Caso do senador Carlos Portinho (PL-RJ). Em um post no seu perfil do X (ex -Twitter), disse que o Brasil “é um só” e que “cultura e política não devem se misturar”.

“Minha vida e a história da minha família estão intimamente ligadas ao setor por décadas. A cultura é uma política de Estado e não deve ter lado, sendo a identidade da nossa nação. Não pertence a um grupo político. Não queiram se apropriar”, afirmou. “Deixemos a política para os políticos, e o prêmio do cinema vai para a nossa cultura e os seus personagens.” Ele não mencionou que os “personagens” são pessoas reais, que foram perseguidas, torturadas e mortas (no caso do ex-deputado Rubens Paiva) pela ditadura militar.

Nos comentários da postagem, Portinho recebeu críticas e elogios. A maioria dos comentários foi hostil. Seguidores se disseram decepcionados com o congressista porque, segundo eles, o filme “foi politizado”. Outros afirmaram que a história retratada foi fantasiosa.

As provas do sequestro, da tortura e do assassinato de Rubens Paiva, no entanto, são públicas. Além dos relatos da Comissão Nacional da Verdade, em 2012, o Estado brasileiro reconheceu, no último mês, que foi o responsável pela morte de Paiva.

Depois das críticas, Portinho fez um novo post, acenando aos bolsonaristas. Defendeu a anistia aos presos pelo 8 de Janeiro e destacou que, no Brasil, há presos políticos e “concentração de poderes na mão de um tirano”.

O deputado Bibo Nunes (PL -RS) é outro que havia comemorado, em suas redes sociais, a vitória de Ainda estou aqui. Depois de ser criticado por seguidores, voltou atrás e apagou a postagem. Na sequência, publicou um post levantando dúvidas sobre o financiamento do filme.

Ao longo de sua longa trajetória política, Bolsonaro fez uma série de discursos elogiando a ditadura. Quando era deputado federal, tinha, em uma parede de seu gabinete, as fotos dos cinco presidentes da ditadura militar.

Em 2016, Bolsonaro homenageou, durante seu voto pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT), o falecido coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, a quem chamou de “o pavor de Dilma Rousseff” (a ex-presidente foi presa e torturada pela ditadura na década de 1970). Ustra foi responsável pelo Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna (Doi-Codi), criado em 1969, que torturou e matou civis acusados de serem inimigos do regime até 1984. O militar nunca admitiu as mortes.

Agora, Bolsonaro enfrenta um processo que pode resultar em sua condenação e prisão por liderar uma tentativa de golpe de Estado.