Correio Braziliense, n. 22629, 04/03/2025. Política, p. 4

Sob críticas, Lula visitará MST
Victor Correia


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva programou para esta sexta-feira a primeira visita de seu mandato a um acampamento do Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Ele vai ao Quilombo Campo Grande, que fica na cidade de Campo do Meio, Minas Gerais, e anunciará uma série de medidas voltadas para os sem terra e agricultores familiares. Entre os atos esperados, estão o assentamento de 12 mil famílias e o lançamento de novas políticas de crédito para os produtores.

A visita ocorre em meio a críticas do MST ao governo pela falta de ações em prol da reforma agrária. Em janeiro, a organização divulgou uma carta aberta criticando a “paralisação” da reforma, apesar das promessas de campanha de Lula — o MST foi um dos movimentos sociais mais atuantes durante o período eleitoral de 2022. Além disso, há temor no governo com o tradicional Abril Vermelho, quando o grupo intensifica a invasão de terras consideradas improdutivas.

O Palácio do Planalto avisou a lideranças do MST sobre a visita de Lula ao quilombo mineiro na semana passada, quando também as convidou a participarem da comitiva presidencial que foi a Montevidéu, no Uruguai, para a posse do presidente Yamandú Orsi, no último sábado.

“Passando para convidar todos os nossos companheiros para um grande ato que nós vamos fazer em defesa da reforma agrária, com grandes entregas, com grandes anúncios, com a presença de vários ministros e do presidente Lula”, afirmou, em vídeo, um dos coordenadores nacionais do MST, João Paulo Rodrigues, ao lado do ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira. A fala foi gravada no Uruguai. Teixeira, por sua vez, confirmou os anúncios programados, que, segundo ele, vão beneficiar famílias sem terra em todo o Brasil.

O Quilombo Campo Grande, onde ocorrerá o ato, reúne mais de 459 famílias, no terreno da antiga Usina Ariadnópolis, de álcool e açúcar. A empresa faliu nos anos 1990, e os trabalhadores ocuparam o local. Após 11 tentativas de despejo, incluindo uma encampada pelo governador de Minas Gerais, Romeu Zema, durante a pandemia, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu, no fim do ano, negar o pedido de recuperação judicial da Companhia Agropecuária Irmãos Azevedo (Capia), que administrava a usina. A medida abriu caminho para que possa haver uma ação de desapropriação e entrega da terra aos moradores do quilombo. A expectativa é de que Lula assine o ato na sexta-feira.

O MST cobra que o governo federal assente as 100 mil famílias que aguardam a regularização, sendo 65 mil neste ano. A gestão, porém, espera dar posse de terra a 20 mil até dezembro, número considerado baixo pelo movimento.

Além disso, os sem terra cobram orçamento maior para o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), que, no ano passado, investiu R$ 567 milhões — muito abaixo do aplicado anualmente nos governos anteriores de Lula, quando a média chegou a atingir R$ 3,6 bilhões por ano.

Lula também quer evitar mal -estar com o aumento das invasões no Abril Vermelho, como ocorreu em anos anteriores. Em 2024, o movimento ocupou 35 terras no período, 21 a mais do que no ano anterior. Houve, ainda, manifestações em sedes do Incra por todo o país.

O aumento das invasões no período provocou, nos anos anteriores, conflitos entre o governo e o agro, bem como com a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA). Em 2023, o Congresso criou uma CPI do MST, na tentativa de desgastar o governo, mas o colegiado não chegou a conclusões. No ano passado, a Câmara aprovou um projeto que impediria invasores de propriedades rurais de receberem benefícios do governo, como o Bolsa Família.

Frase

"O presidente Lula vai lançar assentamentos para 12 mil famílias e lançar igualmente os créditos e todas as novidades. Vocês precisam estar nesse grande anúncio da reforma agrária”

Paulo Teixeira, ministro do Desenvolvimento Agrário