Título: Lula: fim de CPMF não reduz preços
Autor: Lorenzi, Sabrina; Rosa, Leda
Fonte: Jornal do Brasil, 27/05/2008, Economia, p. A17

Encontro de economistas e empresários começa com polêmica sobre retorno do imposto.

Rio e São Paulo

O 20º Fórum Nacional do Instituto Nacional de Altos Estudos (INAE) foi palco para vários recados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ontem, no Rio de Janeiro, na sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Em um deles, o presidente procurou derrubar a tese do `quanto menos imposto mais barato fica¿. Mostrou que, pelo menos no Brasil, a redução da carga tributária nem sempre provoca queda nos preços.

Diante de empresários e economistas que sempre questionam a elevada carga tributária do país a cada edição do Fórum Nacional, promovido pelo ex-ministro João Paulo dos Reis Velloso, Lula alfinetou:

¿ É engraçado, não vimos os produtos reduzirem de preço com o fim da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). Parece que apenas aumentou o ganho daqueles que pagavam CPMF.

André Braz, pesquisador da FGV responsável pelo IPC, afirma que é difícil mensurar o impacto do fim da CPMF na inflação. As maiores altas vêm dos alimentos, que subiram 4,06% desde o fim do imposto, pressionados por razões externas.

¿ Não temos condição de contabilizar se a retirada da CPMF de fato não contribuiu para baixar preços ¿ avaliou o pesquisador. ¿ Não sabemos se não fez diferença ou se essa eliminação contribuiu para que a alta do produto fosse menor.

Lula lembrou que, com o fim da CPMF, o governo deixou de arrecadar R$ 40 bilhões e disse que "quem perdeu com isso foi o PAC da saúde".

¿ Quem perde com a inflação são os pobres ¿ completou. ¿ O Estado tem que ser forte para atender a quem precisa. São milhões e milhões de almas, mulheres e crianças, brasileiros que não vão a Brasília, que não têm lobby.

Comércio e indústria repudiam

Representantes da indústria e comércio nacionais reagiram enfáticos ontem à declaração do presidente Lula sobre a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). A Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP) declarou que apelará hoje às lideranças políticas em Brasília, na Câmara dos Deputados e no Senado.

A entidade paulista ¿ que representa o setor de comércio e serviços do Estado ¿ formaliza hoje seu repúdio às articulações focadas na recriação da CPMF. No documento, a Fecomercio reitera os efeitos nocivos que envolvem a possível volta da contribuição.

A Fecomercio frisa que "qualquer tentativa de ressuscitar o imposto produziria efeitos negativos para a sociedade brasileira que já arca com uma pesada e injusta carga tributária".

Para Armando Monteiro Neto, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a volta da contribuição "seria um retrocesso inaceitável para o Brasil. Trata-se de uma página virada em nossa história. A sociedade brasileira não quer mais aumento de imposto, quer melhoria na qualidade do gasto público". Monteiro Neto defendeu a melhoria e maior eficiência na gestão dos recursos destinados à área da saúde.