O GLOBO, n 32.315, 27/01/2022. Economia, p. 16

Setor produtivo prevê mais investimentos, mas teme Custo Brasil

Glauce Cavalcanti


O convite para o Brasil ingressar na OCDE traz um misto de otimismo e receio no setor produtivo do país. De um lado, o empresariado e especialistas enxergam uma sinalização positiva ao mercado, o que poderia destravar investimentos e pressionar o Brasil a fazer reformas. De outro, o chamado Custo Brasil preocupa. É fator que mina a competitividade e pode deixar o país na lanterna dos membros da organização.

José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abilplast), está entre os que veem o trâmite para participar da OCDE como positivo para o país:

— Esse grupo de 250 regras a serem cumpridas indica alguma previsibilidade. Seria uma forma de o Brasil, que se caracteriza pelo improviso, falta de planejamento e de estratégia de longo prazo, sinalizar segurança ao investidor pela existência de regras similares às vigentes entre os membros da OCDE.

Coelho diz que o custo anual de produção no Brasil é R$ 1,5 trilhão maior que o da média dos países da OCDE.

— Isso gera apreensão. Como vamos estar com esses países, negociando acordos comerciais se nossas condições produtivas são diferentes? —questiona Roriz.

NÃO É ‘BALA DE PRATA’

Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, afirma que o Brasil não pode abrir mão dos avanços que têm de ser feitos já este ano:

— Do ponto de vista das montadoras, empresas globais, é passo importante para o país participar da “Champions League” dos negócios. Os países membros compartilham de políticas e normas modernas e que colaboram para o comércio. Somos um setor que exporta e importa muito, depende de investimento de fora, transferência de tecnologia. Quanto mais compatível for o país com o jogo global, mais facilitado será o investimento.

“Para o setor exportador de aves, suínos e ovos, alcançar uma cadeira na OCDE permitirá relações mais equilibradas com o mercado mundial”, disse a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) por nota, destacando a importância do ingresso no grupo para setores de atuação internacional, como os de avicultura e suinocultura.

Mas para Leonardo Paz Neves, analista da Fundação Getulio Vargas (FGV), o ingresso na OCDE não é uma “bala de prata” para a economia e o setor produtivo brasileiros.

— Não acho que seria essa “bala de prata” toda. O Brasil já é um país com grande convergência com as normativas para ingressar na OCDE, já tem um status diferenciado junto à entidade, como Índia e África do Sul. Talvez, fosse mais confortável não ser membro, e escolher o que vê como mais importante a adotar para o país.

Neves avaliou uma série de dados de Chile e México registrados dez anos antes e dez anos após o ingresso desses países na OCDE, como PIB, investimento estrangeiro direto e a relação dívida pública/PIB:

— Não consigo dizer que Chile e México melhoraram de fato com a entrada na OCDE. Há outros fatores que pesam. O país precisa ter liquidez, política estruturada.

Marco Polo Lopes, presidente executivo do Instituto Aço Brasil diz que o convite mostra o reconhecimento dos avanços do país:

—Mas é claro que é preciso avançar na reforma tributária e pressionar o Congresso para reduzir o Custo Brasil.