O GLOBO, n 32.316, 28/01/2022. Política, p. 4
Para justificar cortes, presidente diz que Congresso ''inflou'' Orçamento
O presidente Jair Bolsonaro rebateu ontem as críticas que recebeu pelos cortes no Orçamento de 2022 e jogou a responsabilidade para o Congresso, dizendo que parlamentares “inflaram” as despesas além do tamanho das receitas e que ele foi obrigado a vetar parte do texto. Os vetos somaram R$ 3,18 bilhões, dos quais 54% ficaram concentrados nos ministérios do Trabalho e Previdência e da Educação.
Por outro lado, foram mantidos o fundo eleitoral de R$ 4,9 bilhões, que será usado pelos partidos nas campanhas deste ano, inclusive a da reeleição do presidente, e os R$ 16,5 bilhões para as emendas de relator, o chamado orçamento secreto, instrumento pelo qual o Executivo destina verbas a pedido de parlamentares, sem que eles sejam identificados. As opções do governo pelas áreas atingidas pelos cortes ensejaram críticas a Bolsonaro, que repassou a responsabilidade para o Congresso.
A declaração do presidente foi feita em conversa com apoiadores no Palácio da Alvorada. Bolsonaro comentou que foi criticado por cortar R$ 38 milhões que seriam destinados para o estado de Santa Catarina.
— Parte da imprensa de Santa Catarina está batendo em mim porque eu cortei R$ 38 milhões do Orçamento de Santa Catarina. Eu cortei R$ 3 bilhões do Brasil todo. O Parlamento fez um Orçamento além da previsão da Receita. Sou obrigado a cortar —disse o presidente.
Bolsonaro acrescentou que o Orçamento será “recomposto” ao longo do ano, já contando com uma arrecadação de impostos acima do previsto.
— Estão me esculhambando em Santa Catarina porque eu cortei R$ 38 milhões. Mas a gente vai recompor ao longo do ano, porque tem excesso de arrecadação. Mas é impressionante a crítica. Por que não criticou os parlamentares que inflaram o Orçamento?
Dos R$ 3,18 bilhões vetados da peça orçamentária, R$ 1 bilhão era do Ministério do Trabalho; foi o maior corte entre todas as pastas. A perda ficou concentrada no INSS, com R$ 988 milhões. Atualmente, há 1,8 milhão de pessoas na fila do órgão com requerimentos de benefícios. O Ministério da Educação foi o segundo que mais perdeu recursos, com corte de R$ 739,9 milhões.