O Estado de S. Paulo, n. 47989, 08/03/2025. Metrópole, p. A17
Anvisa dá aval a novo remédio para diabete
Leon Ferrari
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou ontem a insulina basal icodeca de administração semanal, da farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk, para tratar pacientes adultos com diabete dos tipos 1 e 2, doença que tem crescido em prevalência de forma constante ao longo das últimas décadas. O produto será comercializado com o nome Awiqli.
A formulação, que permite uma única aplicação semanal, representa uma mudança de paradigma no tratamento da doença, ao superar o desafio de prolongar a ação da insulina no organismo de pacientes que necessitam da substância para o controle da glicemia (níveis de açúcar no sangue), seja porque o sistema imunológico ataca as células que produzem a insulina (tipo 1), porque o corpo já não produz quantidades suficientes do hormônio ou pelo motivo de que as células não respondem adequadamente a ele (tipo 2).
O medicamento ainda precisa passar pelo processo de precificação da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED). O Estadão apurou que a Novo Nordisk pretende lançar o produto no mercado brasileiro no próximo ano. De acordo com a farmacêutica, a aprovação foi baseada nos resultados do estudo ONWARDS, que comparou a insulina icodeca com os tratamentos tradicionais de aplicação diária e demonstrou que ela é igualmente eficaz.
REAÇÕES. Médicos brasileiros comemoram a aprovação que, na avaliação deles, beneficia especialmente pacientes com diabete do tipo 2, que representam 95% de todos os casos no mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde. “É uma revolução”, diz o endocrinologista Carlos Eduardo Barra Couri, pesquisador na Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto.
Na prática, isso significa que, com o novo medicamento, alguns pacientes passarão de 365 injeções de insulina por ano para 52. Para pacientes com diabete tipo 1 e alguns do tipo 2, que precisam também de injeções de insulina rápida ou ultrarrápida antes ou logo depois de refeições, o cálculo é mais complexo. Mas, em média, eles devem passar de 28 picadas semanais para 22, estimam os médicos.
“A aprovação de Awiqli no Brasil é um exemplo prático de como podemos simplificar e melhorar o tratamento de diabete, o que tende a oferecer ainda mais qualidade de vida e autonomia aos pacientes”, defendeu Priscilla Mattar, vice-presidente da área médica da Novo Nordisk no Brasil.
Tal redução pode melhorar a adesão ao tratamento, que, apesar de salvar vidas, ainda é estigmatizado e sofre resistência. “No mundo, menos de 50% dos pacientes estão com bom controle de diabete. Uma das causas disso é a chamada inércia terapêutica”, afirma o endocrinologista Bruno Geloneze, pesquisador principal do Centro de Pesquisa em Obesidade e Comorbidades (OCRC) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Ou seja, os pacientes, principalmente aqueles com diabete do tipo 2, demoram a acrescentar novos medicamentos e, quando existe indicação de insulina, demoram a adotá-la. Algo que tem muito a ver com mitos construídos e difundidos historicamente, mas que em nada condizem com a realidade, de acordo com Couri. “Você prescreve insulina, e a
No mundo A insulina semanal já foi aprovada para adultos em Austrália, Alemanha, Suíça, Japão e Canadá
pessoa acha que vai morrer.”
NO MUNDO. A insulina semanal já foi aprovada para adultos em países como Austrália, Suíça, Alemanha, Japão e Canadá. Nos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA) pediu mais dados de segurança e negou o pedido de aprovação da Novo Nordisk devido à preocupação com pacientes com diabete tipo 1, que apresentaram maior incidência de hipoglicemia grave. Na China, a aprovação só foi para o tipo 2 de diabete. •