Correio Braziliense, n. 22632, 08/03/2025. Política, p. 5

Aproximação com MST pela popularidade


Lula visitou pela primeira vez em seu mandato, um acampamento sem-terra e fez uma série de acenos. Prometeu que entregará, até o final do mandato, tudo o que prometeu ao MST, que cobra do Palácio do Planalto medidas em prol da reforma agrária — a entidade considera que a pauta está praticamente parada, desde que o governo tomou posse, em 2023.

A visita de Lula aos sem-terra vem num momento em que o presidente dá sinais de que não pretende ampliar os espaços do governo para os partidos do Centrão, na reforma ministerial, e de que a articulação política será conduzida pelo PT até a eleição de 2026. A ida da deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR) para a Secretaria de Relações Institucionais no lugar de Alexandre Padilha, removido para o Ministério da Saúde, foi um primeiro sinal disso.

Além do mais, as especulações de que o deputado federal Guilherme Boulos (PSol-SP) está cotado para a Secretaria da Presidência — no lugar de Márcio Macêdo — e de que a também deputada federal Tábata Amaral (PSB-SP) poderia ser convidada para o Ministério da Ciência e Tecnologia reforçam a ideia de aumentar os espaços para a esquerda no primeiro escalão ministerial.

No encontro com o MST, Lula disse que seus "amigos de verdade" estão ali. O aceno tem também a intenção de manter a popularidade entre seus apoiadores, sobretudo por causa da aproximação do Abril Vermelho — período no qual os sem-terra intensificam as ocupações de terras.

Alfinetada

"Todo mundo sabe que tenho lado. Todo mundo sabe que, quando terminar o meu mandato, vou voltar para minha casa. Não vou para Paris, não vou para Londres, não vou para os Estados Unidos", disse, alfinetando o antecessor Jair Bolsonaro, que em 30 de dezembro de 2022 viajou para os EUA e não passou a faixa presidencial.

"Vou voltar para minha casa. E quem são os meus amigos depois que deixar a Presidência? São vocês, que foram para a vigília (em frente à sede da Polícia Federal, em Curitiba, onde esteve preso por causa da Operação Lava-Jato) gritar: 'Bom dia, boa tarde, boa noite, Lula'. Nunca esqueço quem são os meus amigos", frisou.

O presidente vinha sendo criticado pelo MST, que prometia intensificar a pressão e as invasões de terra. Para lideranças do movimento, o governo federal não assentou nenhuma família desde 2023 — somente regularizou a situação de quem já estava assentado. Em janeiro, os sem-terra divulgaram um documento denunciando a "paralisia" da reforma agrária, e anunciando pressão para que Lula assente as 100 mil famílias que aguardam um lote regular.

Acompanharam o presidente a primeira-dama Janja e os ministros Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário), Esther Dweck (Gestão e Inovação), Alexandre Silveira (Minas e Energia) e Macaé Evaristo (Direitos Humanos), além do presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), César Aldrighi.