O GLOBO, n 32.316, 28/01/2022. Política, p. 10

PT e PSB não se entendem em Pernambuco

Eduardo Gonçalves


Partidos saíram de mais um encontro sem consenso sobre quem deve encabeçar a chapa para a disputa do governo estadual. Há resistência petista em retirar pré-candidato, desacordo sobre melhor nome socialista e até quanto à indicação ao Senado

Apesar das promessas de que vão caminhar juntos nas eleições deste ano, os dirigentes de PT e PSB e PCdoB se reuniram nesta quinta-feira para tentar desatar um dos principais nós que ainda travam a aliança, a eleição em Pernambuco. Após mais de duas horas de conversas, eles saíram do encontro como entraram, sem acordo.

A única definição diz respeito a prazo. O governador do estado, Paulo Câmara (PSB) — em tese, a quem caberá escolher o nome do pré-candidato do grupo à sua sucessão — prometeu fazê-lo na semana que vem. Três correligionários despontam como favoritos: os deputados federais Danilo Cabral (PSB) e Tadeu Alencar (PSB), além do secretário da Casa Civil pernambucana, José Neto (PSB).

Em meio à indefinição, o PT deu uma cartada em favor do senador petista Humberto Costa, que lançou sua pré-candidatura ao governo em dezembro. Embora recentemente os caciques do partido venham sinalizando aos aliados disposição de apoiar o nome escolhido pelo PSB em Pernambuco, o PT encomendou e pretende divulgar pesquisas que mostrariam Costa muito à frente dos deputados Cabral e Alencar na disputa. Ao fim, porém, é pouco provável que o PT indique o cabeça da chapa.

O levantamento ainda aponta como favorita na corrida ao Senado pelo estado a deputada federal Marília Arraes (PT), que na última eleição municipal rivalizou com o primo, o prefeito de Recife, João Campos (PSB), e por isso sofre resistência em alas do partido socialista.

— A reunião foi tranquila, mas não houve consenso — resumiu o Humberto Costa, que acrescentou: — Não é interesse do PT fazer uma ruptura, mas entendemos que a minha candidatura é legítima pela minha história e posição nas pesquisas.

A questão de Pernambuco compõe um conjunto de divergências entre PT e PSB, que estão em plenas negociações para a formação de uma federação, instrumento pelo qual partidos se comprometem a atuar juntos, como se fossem uma mesma legenda, por pelo menos quatro anos.

PC DO B CORRE POR FORA

Um dos principais pontos de discórdia das duas siglas passa pelo critério de escolha dos candidatos da aliança. Os petistas defendem que o cabeça de chapa seja o melhor colocado nas pesquisas, enquanto os caciques do PSB pedem que os cenários sejam analisados caso a caso.

Correndo por fora, o PCdoB também almeja postos de destaque no palanque pernambucano. Durante a reunião de ontem, o deputado Renildo Calheiros (PCdoB-PE) defendeu a candidatura da vice-governadora de Pernambuco, sua correligionária Luciana Santos, ao Senado.

—Eu levantei o nome dela porque, além de vice, já foi deputada federal, prefeita de Olinda e é presidente nacional do nosso partido. Então, é importante que seja analisado —argumentou.

Publicamente, dirigentes petistas afirmam que é preciso estabelecer o candidato ao governo para só então discutir o restante da chapa. Nos bastidores, porém, eles deixam claro que não vão aceitar ficar “só” com a vaga de vice.

— Se não der para ir ao governo do estado, tem que ser uma vaga à altura do PT, mas não tem nenhum nome fechado ainda —afirmou o presidente do diretório em Pernambuco, Doriel Barros.

Também participaram da reunião os presidentes do PT, Gleisi Hoffmann, e do PSB, Carlos Siqueira, que já haviam se reunido ontem em Brasília para debater a oficialização da federação.