Título: Bush escolhe novo 'czar da Inteligência'
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Fonte: Jornal do Brasil, 18/02/2005, Internacional, p. A12

Presidente traz Negroponte de Bagdá e ameaça a Síria

WASHINGTON - Atual embaixador americano no Iraque, John Negroponte foi indicado ontem pelo presidente George Bush para ser o primeiro diretor de Inteligência nacional dos EUA. Negroponte, envolvido durante o governo Ronald Reagan na operação que tentou derrubar o governo sandinista na Nicarágua, será responsável por coordenar os trabalhos e o orçamento de 15 agências e será o principal conselheiro do presidente para assuntos de Inteligência. A indicação ainda deve passar pela aprovação do Senado nas próximas semanas.

- John vai garantir que aqueles cuja tarefa é defender a América tenham as informações necessárias para tomar as decisões certas - disse o presidente. - Vamos parar os terroristas antes que nos ataquem. Para isso, precisamos que as agências trabalhem como um empreendimento único.

Bush afirmou que a experiência de Negroponte no Iraque lhe dará uma ''vantagem incalculável'' na hora de exercer o cargo e que os conhecimentos diplomáticos do embaixador o ajudarão a negociar as operações entre o Pentágono, a CIA, o FBI e outras agências.

O escolhido afirmou que o cargo será o seu maior desafio em 40 anos de carreira e disse que planeja ''reformar a Inteligência para atender às necessidades do século 21''.

Os gastos dos EUA com Inteligência são confidenciais, mas estima-se que o total anual seja de cerca de US$ 40 bilhões.

Os atentados de 11 de setembro de 2001 motivaram, em dezembro, a aprovação da lei que criou o cargo batizado de ''czar da Inteligência''. O posto foi recomendado no relatório produzido pela comissão independente que investigou os ataques terroristas.

Negroponte estava nas Nações Unidas quando foi chamado para assumir o cargo de representante dos EUA no Iraque, depois da transferência de poder ao governo interino, em julho. Ainda não se sabe quem o substituirá em Bagdá.

Após o anúncio, Bush tratou dos temas do Oriente Médio e exigiu que a Síria retire as tropas do Líbano depois do assassinato do ex-premier libanês Rafik al-Hariri. O presidente também afirmou que vai buscar o apoio da Europa, na semana que vem, para pressionar Damasco ainda mais.

- A Síria não está acompanhando o progresso que está ocorrendo no Oriente Médio - disse o presidente dos EUA.

Bush disse esperar que o país obedeça à resolução 1559 do Conselho de Segurança da ONU, que exige a retirada das tropas do Líbano.

Hariri foi morto na segunda-feira em um atentado que muitos libaneses atribuem à Síria. O governo de Bachar Assad nega, mas a morte contribuiu para a rápida deterioração das suas relações com os EUA.

Após o ataque, Bush chamou de volta a embaixadora americana, Margaret Scobey. Além disso, os EUA impuseram sanções econômicas contra a Síria em maio. A Casa Branca discute a possibilidade de as tropas dos EUA cruzarem a fronteira a partir do Iraque para perseguir insurgentes.

Bush afirmou que a Síria precisa garantir que seu território não seja usado pelos rebeldes iraquianos, ''e esperamos que Damasco encontre e entregue partidários do regime de Saddam Hussein, devolvendo-os ao Iraque''.

A secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, foi ainda mais agressiva. Segundo ela, Washington prefere a via diplomática para resolver as diferenças com o país árabe e têm várias opções à disposição, mas não exclui o uso da força.

- O presidente se reserva sempre algumas opções - declarou Rice em audiência no Senado onde foi interrogada sobre a possibilidade de um ataque contra a Síria, devido à crescente tensão com Damasco.