Título: Amorim intercede por brasileiro
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Fonte: Jornal do Brasil, 18/02/2005, Internacional, p. A14

Em encontro com líderes palestinos, ministro faz apelo por engenheiro sequestrado

AMÃ - Em visita ao Oriente Médio, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, discutiu com todos os líderes, com quem se reuniu, o caso do seqüestro do engenheiro brasileiro João José de Vasconcellos Júnior, feito refém há quase um mês no Iraque.

Na Cisjordânia, onde se encontrou com o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, o premier palestino, Ahmed Qorei, e o chanceler Nabil Shaath, obteve respostas positivas ao pedido de ajuda pela libertação do refém.

- O Brasil é um país de paz, amigo dos muçulmanos - ressaltou Qorei.

Já Abbas afirmou ter determinado que intercedam junto aos militantes no Iraque para que libertem o engenheiro com saúde.

Após o encontro, Amorim colocou flores no local onde está o túmulo do líder palestino Yasser Arafat, morto em novembro do ano passado.

- A presença dele [Amorim]pode nos ajudar a conquistar apoio na região - comentou o irmão do brasileiro seqüestrado, Luiz Henrique Vasconcellos.

Mais cedo, em entrevista à BBC Brasil, o ministro chegou a questionar a viabilidade de uma saída diplomática para a libertação do refém.

- Não se pode falar em uma saída diplomática porque não estamos lidando com um governo, mas com um movimento, não sabemos bem nem a natureza do que foi o seqüestro - disse Amorim.

No Brasil, a irmã do engenheiro, Isabel Vasconcellos, não se mostrou surpresa com a declaração:

- As saídas diplomáticas são difíceis porque não existe uma embaixada brasileira no Iraque nem um governo reconhecido no país para se negociar - disse. - A nossa tentativa, então, é o apelo popular.

Ontem, o Conselho Regional de Engenharia de Minas Gerais promoveu uma passeata em Belo Horizonte e no sábado - dia em que o seqüestro completa um mês - está prevista outra manifestação, na capital paulista, organizada pela comunidade árabe do estado.

A visita do chanceler brasileiro à região pretende aprofundar contatos políticos e econômicos, além de dar continuidade aos preparativos da Cúpula de Chefes de Estado e de Governo da América do Sul e dos Países Árabes, marcada para maio, no Brasil.

A viagem, que teve início ontem na Jordânia e no território palestino, inclui ainda Omã, Qatar, Kuwait, Tunísia, Argélia, Arábia Saudita e Síria. Também estava prevista uma visita ao Líbano, ''adiada devido às circunstâncias políticas internas'', informou uma fonte diplomática.

Na última segunda-feira, um atentado - o pior desde o fim da guerra civil no Líbano (1991) -, matou o ex-primeiro-ministro Rafik Hariri e outras 14 pessoas, além de deixar mais de 100 feridos.

A visita a Damasco acontece em meio a uma nova pressão diplomática, impulsionada pelo atentado, devido à manutenção de 16 mil soldados sírios no vizinho Líbano. Washington vem pedindo a retirada imediata das tropas.

Em entrevista à BBC Brasil, Amorim ressaltou que esta é uma questão que os libaneses têm de resolver. No entanto, disse que a ''médio prazo'' o Brasil gostaria que a retirada efetivamente ocorresse.

Hoje, Amorim viaja a Jordânia, de onde seguirá, amanhã, para a Síria. No país, se reunirá com o presidente Bashar al Hassad e com o chanceler Farouk Al Sharaa. A viagem do ministro pelo Oriente Médio deve terminar no dia 26.