O Estado de S. Paulo, n. 47992, 11/03/2025. Metrópole, p. A14

Mais de um terço das mulheres no País diz ter sofrido violência em um ano
Ítalo Lo Re

 

 

Ao menos 21,4 milhões de mulheres brasileiras – ou 37,5% da população feminina com 16 anos ou mais – foram vítimas de algum tipo de violência no último ano, segundo estudo do Fórum Brasileiro de Segurança e do Instituto Datafolha. Entre as formas mais frequentes estão humilhações verbais e agressões físicas, como batidas, chutes e empurrões.

Os dados, divulgados ontem, estão na 5.ª edição da pesquisa Visível e Invisível: Vitimização de Meninas e Mulheres, feita a cada dois anos. O principal objetivo é entender a violência contra mulher para além dos registros policiais. Foram realizadas entrevistas em 126 cidades, entre 10 e 14 de fevereiro. Ao todo, 793 mulheres com 16 anos ou mais responderam presencialmente a um questionário sobre formas de violência que possam ter sofrido ou presenciado ao longo dos 12 meses anteriores.

AUMENTO. A pesquisa mostra que o porcentual de mulheres que contaram ter sofrido violência é consideravelmente maior do que na edição de 2023, quando essa parcela correspondia a 28,9%. Segundo os pesquisadores, é “difícil precisar as razões” que levaram a esse crescimento, mas há algumas hipóteses. Entre elas, Samira Bueno, diretora executiva do Fórum de Segurança Pública, cita que pode ter ocorrido prolongamento do cenário apontado já no relatório de 2023, que indicou o crescimento de toda forma de violência contra a mulher. “Está nessa tendência de crescimento desde o fim da pandemia.”

Segundo Samira, estudos no exterior apontaram que o período pode ter elevado o controle exercido por parceiros no contexto doméstico, desencadeando novas tensões e violências à medida que houve a volta às ruas. Para ela, o avanço dos discursos de ódio nos últimos anos também pode ter sido decisivo. “Houve, por exemplo, a multiplicação ( na internet) de canais ‘red pill’, que têm discursos misóginos, machistas e que fazem apologia da violência contra a mulher”, diz.

FORMAS DE AGRESSÃO. A pesquisa apontou que o número médio de formas de agressão vivenciadas por mulheres no período foi de 3,2. Em outras palavras: as vítimas relataram, em média, mais de três tipos diferentes de violência. Entre os listados, um primeiro destaque são insultos, humilhações ou xingamentos, relatados por 31,4% das respondentes.

A segunda forma mais vivenciada no último ano foi agressão física, com batidas (tapas ou socos), empurrões ou chutes, com prevalência de 16,9% – na edição anterior, essa modalidade havia ficado em 3.º.

Efeito da pandemia

Período pode ter elevado o controle exercido por parceiros em casa, levando a novas violências

Empatadas mais abaixo estão as ameaças de agressão e a perseguição (stalking)/amedrontamento, ambas tendo sido vivenciadas por 16,1%. A análise do perfil das vítimas de violência no último ano indica que mulheres de 25 a 34 anos (43,6%), de 35 a 44 (39,5%) e de 45 a 59 (38,2%) são os grupos etários mais afetados. Mas há elevada prevalência em todas as faixas etárias, entre 16 e 59 anos.