O Estado de S. Paulo, n. 47992, 11/03/2025. Metrópole, p. A16
Presidente da COP-30 pede ‘mutirão’; ONU deve cobrar metas de líderes
Felipe Frazão
Renan Monteiro
Presidente da COP-30, o embaixador André Corrêa do Lago, secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Itamaraty, lançou um apelo mundial ontem para que seja formado um “mutirão” na luta contra o aquecimento global.
O principal negociador brasileiro escreveu a carta inaugural da Presidência da COP-30 – uma praxe nas discussões desse tipo. Pela primeira vez, a COP, conferência climática que reúne chefes de Estado, negociadores de governos e representantes da sociedade civil, será na Amazônia.
Ele revelou que o governo Luiz Inácio Lula da Silva planeja convocar ao menos duas reuniões de líderes nas Nações Unidas para discutir o balanço dos esforços e compromissos voluntários de cortes de emissões de gases estufa de cada país, as NDCs (sigla em inglês para contribuição nacionalmente determinada).
O embaixador revelou que o secretário-geral da ONU, António Guterres, está “extremamente comprometido” e deve anunciar em breve duas convocações para encontros com líderes globais das maiores economias, a fim de discutir a situação das NDCs. A primeira discussão deve ser realizada de forma virtual, nos próximos meses, e a segunda, em setembro, durante a Assembleia-Geral em Nova York.
“Existe um entendimento entre o secretário-geral da ONU e o presidente Lula de trabalharem juntos no sentido de acentuar a importância de NDCs ambiciosas”, afirmou André Corrêa do Lago.
Esses documentos são revisados periodicamente, assim como deve ser dada transparência sobre como estão sendo colocados em prática. Com base em dados científicos ad
Alargando opções
Brasil pretende levar questão ambiental para discussões com o Brics, o FMI e o G-20
versos sobre o aquecimento global, governo e especialistas pressionam para que haja mais “ambição” dos líderes ao assumir compromissos e metas, a fim de acelerar a transição energética e reduzir emissões de gases estufa.
EM NÚMEROS. Apenas 17 dos 198 países signatários da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC) apresentaram novas contribuições atualizadas, dentro do prazo acordado – até fevereiro.
O embaixador passou a semana em Nova York e discursou nas Nações Unidas. Ele pregou uma presidência “guiada pela ciência”. Na carta e no discurso à Assembleia-Geral da ONU, citou que 2024 foi o ano mais quente dos registros históricos. Destacou também que, pela primeira vez no ano passado, a temperatura média global ultrapassou 1,5°C acima do patamar pré-industrial – o nível que o Acordo de Paris, pacto global firmado por quase 200 países dez anos atrás, pretendia limitar.
Ao falar a seus pares, negociadores climáticos, Corrêa do Lago propôs uma “autocrítica” – que disse também aplicar-se a ele próprio, há quase 25 anos envolvido nos debates. “É relevante fazer uma autocrítica e responder por meio de ações a grande parte da percepção externa de que as negociações se arrastam por mais de três décadas com poucos resultados. No futuro, seremos julgados por nossa disposição de responder com firmeza à
crescente crise climática.”
ALÉM DA COP. O embaixador também antecipou uma nova estratégia brasileira: fazer a discussão climática extrapolar as barreiras da cúpula e do fundo para o clima. Nesse sentido, o Brasil quer usar foros multilaterais como Brics (grupo dos países emergentes), FMI (Fundo Monetário Internacional), G20 (grupo das maiores economias do mundo) e FfD4 (Conferência Internacional sobre Financiamento para o Desenvolvimento). •