Título: Caminho tortuoso até o Cristo
Autor: Waleska Borges
Fonte: Jornal do Brasil, 18/02/2005, Rio, p. A15
Com as obras na Rua Almirante Alexandrino, acesso ao Corcovado é facilitado, mas visitantes ainda têm que enfrentar preços abusivos
Com a promessa de melhorar o acesso dos turistas ao Cristo Redentor, a Fundação Geo-Rio concluiu as obras de contenção na Rua Almirante Alexandrino. Interditado desde novembro, depois de um desabamento, o trecho está liberado. Se por um lado o turista está livre do percurso estreito e das curvas da Ladeira do Ascurra, por outro continua tendo que enfrentar a cobrança abusiva de táxis e vans que sobem ao monumento. Pelo trajeto entre o Cosme Velho e o Corcovado, a cobrança chega a R$ 40 por pessoa. Os turistas são surpreendidos com as ofertas de trajeto na entrada da bilheteria. Segundo Sávio Neves, diretor do Trem do Corcovado, os visitantes são abordados por taxistas com carros particulares. Na manhã de ontem, pelo menos 15 taxistas abordavam os turistas na entrada da bilheteria.
- Eles (os taxistas) dizem que o trem pode perder o freio ou que serão assaltados - conta Neves, enumerando os três principais problemas enfrentados pelos turistas: os flanelinhas, taxistas particulares e guias-mirins.
Para subir com a família - quatro pessoas - do Cosme Velho até os elevadores do monumento de van, o aposentado baiano Cresio Prates Brito, 50 anos, precisou desembolsar R$ 100.
- Viajei 1.300 quilômetros, desde Vitória da Conquista, para vir à formatura de meu filho. Aproveitei para conhecer o Cristo, mas estou assustado com os preços - conta Cresio.
Para o advogado Ramon Costa Brito, 27 anos, a prefeitura deveria implantar no local um serviço de transporte com vans.
- É um absurdo, mas criaram um cartel do transporte para o Cristo - critica Ramon.
De acordo com Sávio Neves, flanelinhas chegam a cobrar R$ 25 por uma vaga. Para conseguir clientes, segundo Neves, os guias-mirins picham as placas que indicam o caminho ao Corcovado com a intenção de dificultar a chegada.
- O Cristo recebe 700 mil visitantes por ano, mas apenas 11% deles são cariocas. O morador do Rio se sente intimidado com a ação dos flanelinhas e prefere não fazer o passeio - lamenta Neves.
Para atrair visitantes cariocas, o Trem do Corcovado está oferecendo desconto de 50% para quem provar que mora no Rio. Com a promoção, a direção conseguiu aumentar de quatro para 11% o número de visitantes cariocas. O passeio de trem, que dura 17 minutos, custa R$ 30, por pessoa. Para quem comprova que é morador custa R$ 15.
Além da exploração com os preços dos transportes, os turistas reclamam do que cobram as lanchonetes e as lojinhas que vendem lembranças do passeio. O casal de agricultores de Santa Catarina, Décio Amorim, 26 anos, e Raquel Amorim, 24, conta que se surpreendeu com o preço das frutas vendidos no local. Um pedaço de melancia está sendo vendido por R$ 7, quando o quilo custa R$ 1 em supermercados da Zona Sul. Apenas uma banana é vendida por R$ 1.
- Somando o que pagamos com flanelinha, lanche, lembrancinhas e o transporte gastamos R$ 155. O monumento é lindo, mas o valor do passeio é muito alto - diz Raquel, exibindo um pequeno chaveiro comprado por R$ 10.
A violência também é uma preocupação para os turistas. O casal de Santa Catarina conta que quase desistiu da viagem para o Rio.
- Vejo muitas notícias na TV, estava com medo de assaltos - justifica Raquel, que levou o filho Sérgio, de 6 anos, ao passeio.
Segundo Sávio Neves, a segurança no trecho entre a estação e o monumento é feita por 14 policiais militares e dois guardas municipais.