O GLOBO, n 32.318, 30/01/2022. Política, p. 10
Alianças no Rio acirram disputa pelo Senado
Jan Niklas
Nomes tidos como favoritos para concorrer à única vaga na Casa pelo estado correm o risco de ter que dividir o apoio de seus próprios partidos por conta de coligações ou de abrir mão da corrida e puxar voto na eleição para deputado
As movimentações recentes no tabuleiro político do Rio de Janeiro vêm deixando a disputa pelo Senado no estado cada vez mais acirrada. Com apenas uma cadeira em disputa nas eleições deste ano, pré-candidatos tanto da esquerda quanto da direita brigam por apoios dos mesmos palanques nacionais e estaduais.
Após o PT fluminense anunciar que deve lançar o presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), André Ceciliano, para o Senado, abrindo caminho para selar a aliança com o PSB em torno da chapa do deputado federal Marcelo Freixo (PSB), a candidatura do deputado federal Alessandro Molon (PSB) ganhou um novo obstáculo. A aliança entre os partidos poderá implicar em apoio de socialistas a Ceciliano, confirmando a tendência que, em coligações, raramente um mesmo partido indica governador e senador.
Molon afirma que no momento a decisão do PT não muda nada em sua campanha. Ele diz que até julho ainda haverá muitas conversas sobre os candidatos que efetivamente serão colocados na disputa e pretende procurar diversos partidos, inclusive o PT, para se colocar como a melhor opção da esquerda.
Para se cacifar, ele diz que pesquisas internas mostram sua boa colocação — além de explorar o trunfo do apoio de personalidades como Caetano Veloso e Fernanda Montenegro.
— Acredito que o bom senso prevalecerá, e o campo democrático vai convergir para a candidatura que for mais viável. Atualmente, as três vagas do Rio no Senado são de apoiadores de Bolsonaro, e o mais importante no momento é derrotar o bolsonarismo.
Levantamentos que circulam entre lideranças partidárias mostram que, além de Molon, o senador Romário (PL) e o ex-prefeito Marcelo Crivella (Republicanos), que também já ocupou uma cadeira no Senado, aparecem no pelotão de cima. Também avaliam concorrer a deputada federal Clarissa Garotinho (PROS), o prefeito de Duque de Caxias, Washington Reis (MDB) e o deputado federal Otoni de Paula (PSC).
No PT a expectativa é que a candidatura do presidente da Alerj ganhe musculatura com sua inserção ao lado de Lula na campanha. Recentemente, o partido vinha também apostando no apoio do PDT a seu candidato ao Senado.
Porém, segundo publicou a colunista Malu Gaspar, do GLOBO, o PSD, de Eduardo Paes, e o PDT estão perto de fechar um acordo para as eleições ao governo do estado em torno de seus pré-candidatos: o ex-prefeito de Niterói Rodrigo Neves (PDT) e o presidente da OAB, Felipe Santa Cruz (PSD) — um disputaria o governo estadual e o outro, o Senado. Quem concorrerá em qual posição será definido mais tarde.
Romário diz que trocou o Podemos pelo PL visando justamente ter um partido maior para concorrer ao Senado na eleição que ele prevê que será a mais difícil de sua carreira. Oficialmente, o ex-jogador de futebol conta com o apoio do presidente Jair Bolsonaro (PL) e do governador Cláudio Castro (PL), seus colegas de partido.
Porém, outros candidatos do campo conservador disputam esse mesmo apoio e apostam que Castro fará palanques múltiplos — ou seja, em algumas agendas de campanha pode pedir votos para Romário, e em outros eventos, para outros aliados.
BOLA DIVIDIDA
Correndo atrás dessa aliança estão Washington Reis e Otoni de Paula, que está de saída do PSC para se filiar ao PTB. Enquanto Reis aposta no voto da Baixada Fluminense, Otoni confia no eleitorado evangélico. No entanto, Romário é taxativo ao se colocar como único nome do PL:
—Estou há 12 anos na política e uma coisa que aprendi é que as pessoas têm o direito de se colocar em posições para qualquer disputa. Mas o que foi tratado, apertado na mão, olho no olho, é que eu sou o candidato do Castro e do PL. Já no caso de Crivella, a equação a ser resolvida é outra: segundo a colunista Berenice Seara, do Extra, o presidente do Republicanos no Rio, o bispo Luís Carlos Gomes, vem insistindo para que ele se lance a deputado federal, com o objetivo de puxar votos para a legenda emplacar mais nomes em Brasília. A tese também vem sendo defendida internamente pelo presidente nacional da sigla, o deputado Marcos Pereira (SP). Porém, o ex-prefeito não pretende abrir mão da disputa pelo Senado.
Presidente do PL no Rio, o deputado federal Altineu Côrtes (PL) acredita que as candidaturas ao Senado podem se pulverizar se as alianças locais, que têm ainda compromissos com prefeitos e vereadores, não prosperarem.
—A gente sabe que política é feita de alianças. Todos precisam de apoios de outros partidos. Mas quando não há consensos é natural que diversos candidatos ao Senado se coloquem buscando os mesmos votos e apoios.