O GLOBO, n 32.316, 28/01/2022. Economia, p. 15
Economia americana cresce 5,7%, maior expansão desde 1984
No quarto trimestre, PIB avança 6,9%, puxado pelos investimentos das empresas em capital fixo e em estoques
Com o avanço da vacinação e a expansão do consumo, a economia dos Estados Unidos registrou seu maior crescimento desde 1984: o Produto Interno Bruto (PIB) teve expansão de 5,7% em 2021, primeiro ano do governo Joe Biden, informou ontem o Departamento do Comércio. O resultado foi levemente acima das estimativas de analistas ouvidos pela Reuters, de 5,6%.
No quarto trimestre, a economia avançou 6,9% na taxa anualizada, o triplo dos 2,3% registrados no terceiro trimestre e bem acima da expectativa de analistas, que era de alta de 5,5%.
Os EUA divulgam taxas trimestrais de forma diferente do Brasil, ao calcular a variação do PIB como se aquele percentual fosse se manter por um ano inteiro. Sem a projeção para o ano, o avanço no quarto trimestre foi de 1,7% na comparação com os três meses anteriores, segundo o New York Times.
Essa é a primeira leitura dos dados do quarto trimestre. Haverá uma revisão em 24 de fevereiro.
ESTÍMULOS E JUROS BAIXOS
Os dados do quarto trimestre surpreenderam os analistas. Segundo o governo dos EUA, eles foram impulsionados pelo movimento de recomposição dos estoques pelas empresas. O investimento em estoques foi de US$ 173,5 bilhões no período e respondeu por 4,9 pontos percentuais do PIB.
Além disso, o investimento das empresas saltou 32% no quarto trimestre. Já o consumo das famílias, que responde por dois terços do PIB, cresceu 3,3%.
A forte recuperação da maior economia do mundo reflete os estímulos do governo Biden para mitigar os impactos da pandemia e da manutenção de juros em patamares historicamente baixos, entre zero e 0,25%. Essa política contribuiu para a expansão de diversos segmentos, incluindo consumo das famílias, investimentos e exportações.
Biden rapidamente assumiu o crédito pelo desempenho da economia e fez um apelo por seu pacote de infraestrutura, de US$ 1,75 trilhão:
“Estamos construindo uma economia americana para o século XXI, e eu peço ao Congresso que mantenha esse ritmo aprovando um projeto de lei para tornar a América mais competitiva, reforçar nossas cadeias de suprimento, fortalecer nossa indústria e inovação, investir em nossas famílias e em energia limpa, e reduzir os custos de alimentos”, afirmou Biden em nota.
Em 2020, quando a pandemia de Covid-19 derrubou a economia global, o PIB dos EUA encolheu 3,4%, maior queda em 74 anos.
Este ano, porém, a gestão Biden deve calibrar os incentivos. Na quarta-feira, o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central do país), Jerome Powell, afirmou que a atividade econômica não precisa mais de estímulos e sinalizou que deve subir os juros já em março. O avanço do PIB dá força aos argumentos do Fed.
DESACELERAÇÃO EM 2022
A mudança na política monetária e o recente aumento dos casos da variante Ômicron devem ditar os rumos da economia americana nos próximos meses. Os gargalos na cadeia produtiva também devem afetar o PIB. Mas há otimismo entre os economistas.
— Este ano será ainda melhor para a economia — disse à Reuters Scott Hoyt, economista sênior da Moody’s Analytics. — Devemos ficar perto do pleno emprego, e a inflação deve encerrar o ano próxima da meta do Fed.
O BC americano tem como meta um índice de 2%. No ano passado, a inflação americana encerrou em 7%, a maior em quase 40 anos.
Mas é preciso ter em mente que a cadeia de suprimentos ainda não se recuperou totalmente dos problemas causados pela pandemia. E há dúvidas sobre como será o consumo das famílias em 2022, devido à inflação elevada. Além disso, muitas empresas têm sofrido com o afastamento de empregados contaminados pela Ômicron. As projeções para o crescimento do PIB este ano estão em torno de 4%.
No Brasil, uma possível desaceleração da economia americana e a alta de juros pelo Fed deve ter impactos, diz o professor de geoeconomia internacional da ESPM, Leonardo Trevisan:
—Se os EUA põem o pé no freio, significa que no Brasil vamos vender menos aço e outros produtos para eles. No caso da economia brasileira, o pior inimigo será a aversão ao risco, já que, quando os juros subirem, os investidores vão preferir comprar títulos americanos.