O Estado de S. Paulo, n. 47998, 17/03/2025. Economia & Negócios, p. B1
Em vez de baixar conta, Itaipu banca obra em universidade
Alvaro Gribel
Ausina hidrelétrica de Itaipu vai bancar obras orçadas em R$ 752 milhões na Universidade Federal Latino-americana (Unila), projetada por Oscar Niemeyer em Foz do Iguaçu, no Paraná. A verba, de acordo com especialistas, poderia ser usada para cortar a tarifa de luz. Isso porque esses gastos da usina, chamados de “outras despe
sas de exploração”, incluem despesas “socioambientais”, que não têm relação com a geração de energia, mas contribuem para deixar a conta mais cara. Esse tipo de repasse foi turbinado por Itaipu nos últimos anos, passando de R$ 124,8 milhões, em 2018, para R$ 893,7 milhões em 2023. Especialistas também criticam a falta de transparência desse tipo de despesa. Ministério de Minas e Energia diz que a redução da tarifa é prioridade da usina. MEC e Itaipu afirmam que o valor inclui “custos de revisão dos mais de 3 mil projetos de Niemeyer”.
A usina hidrelétrica binacional de Itaipu se prepara para financiar uma obra orçada em R$ 752 milhões no câmpus da Universidade Federal Latino-americana (Unila), em Foz do Iguaçu, no Paraná. O projeto, idealizado pelo governo Lula no segundo mandato, teve as obras paralisadas em 2014 e deve ser retomado em abril, com a construção de um restaurante universitário, um edifício administrativo e um bloco de salas de aula.
Esses gastos de Itaipu, chamados de “outras despesas de exploração”, incluem despesas “socioambientais” que não têm relação com a geração de energia, mas acabam deixando a conta de luz mais cara.
Entidades do setor elétrico defendem o fim desses desembolsos para que haja redução da conta cobrada dos consumidores brasileiros. Conforme essas organizações, hoje a tarifa de Itaipu não está caindo, mas apenas deixando de subir, após acordo feito entre Brasil e Paraguai.
“Os custos de Itaipu foram crescendo, mas não para a compra de equipamentos, linhas de transmissão ou unidades geradoras de energia – e sim para gastos socioambientais. Somos contra o consumidor bra
Resposta
Governo diz que redução das contas de luz é prioridade da usina e que há previsão de R$ 2 bi para cortes na tarifa
sileiro ser suporte financeiro de obras”, afirma Luiz Eduardo Barata, presidente da Frente Nacional dos Consumidores de Energia.
Especialistas em contas públicas também criticam essas despesas por correrem por fora do Orçamento federal, com menos transparência. “Trata-se de um gasto tipicamente orçamentário, mas que não está no Orçamento”, diz o economista e pesquisador do Insper Marcos Mendes.
Nos últimos anos, esse tipo de gasto socioambiental foi turbinado por Itaipu, à medida que a usina foi terminando de pagar os financiamentos externos. Em 2018, foram R$ 124,8 milhões. Em 2023, o volume chegou a R$ 893,7 milhões.
Depois de 50 anos, os empréstimos contratados pelo Brasil para a construção da usina foram quitados, em fevereiro de 2023. Para o setor elétrico, a redução dessa despesa deveria ser repassada para a conta de luz, o que faria a tarifa da usina para o consumidor cair cerca de 30%, de US$ 16,71 o MWh para a casa de US$ 12.
Procurado, o Ministério de Minas e Energia (MME) disse que a redução da tarifa tem sido prioridade da usina, após determinação do ministro Alexandre Silveira, e que são previstos aportes de R$ 2 bilhões para reduzir a conta em 2025.
Já o Ministério da Educação e a Itaipu responderam que o valor da obra na universidade inclui “custos de revisão dos mais de 3 mil projetos executivos da obra de Oscar Niemeyer”. O Escritório das Nações Unidas de Serviços para Projetos (Unops), que conduz o projeto, afirmou que o valor é uma estimativa e que a obra está em fase de licitação. •