Correio Braziliense, n. 22637, 13/03/2025. Negócios, p. 10

Inflação recorde em fevereiro
Raphael Pati


A inflação de fevereiro, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), fechou com alta de 1,31%, o maior resultado para o segundo mês do ano desde 2003. Os destaques negativos ficaram com os grupos de educação, habitação e alimentos. Em janeiro, o índice apresentou aumento de 0,16%. No acumulado dos últimos 12 meses, quebrou a barreira dos 5% e atingiu 5,06%. Em fevereiro, o grupo que mais impactou o IPCA foi habitação, que registrou avanço de 4,44% no mês, ante queda de 3,08% no mês anterior. O aumento da inflação nesse segmento se deve ao fim da incorporação do Bônus de Itaipu, que concedeu descontos em faturas de contas de luz em janeiro. Com isso, o subitem energia elétrica residencial passou de uma queda de 14,21% em janeiro para uma alta de 16,80% em fevereiro.

“Adicionalmente, a gasolina subiu 2,8%, devido ao aumento do ICMS autorizado em 1º de fevereiro. Esses dois itens lideraram a alta de 3,16% dos preços monitorados no mês de fevereiro. Analisando as medidas qualitativas do IPCA, verificamos também pressão dos serviços subjacentes e dos núcleos de inflação, que registraram altas de 0,7% e 0,6%, respectivamente”, pontuou Flávio Serrano, economista-chefe do Banco BMG. A maior variação nominal, no entanto, ficou por conta do grupo de educação, impactado, principalmente, pelos reajustes nas mensalidades escolares e de universidades. Com destaques para ensino fundamental (7,51%), ensino médio (7,27%) e pré-escola (7,02%), a inflação nesse grupo subiu 4,7% no mês e contribuiu em 0,28% no índice final. Em relação ao grupo de alimentos e bebidas — que nos últimos meses apresentou taxas mais altas de inflação —, em fevereiro, avançou 0,7%, abaixo do 0,96% registrado no mês anterior. Mesmo com a desaceleração, alguns itens se destacaram pelo forte aumento nos preços médios, como o ovo de galinha (15,39%) e o café moído (10,77%). Para o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, o IPCA elevado já era esperado, devido ao fim do Bônus de Itaipu e aos reajustes escolares, mas a qualidade do IPCA segue aquém do esperado. “Apesar da expectativa de moderação da inflação, conforme os efeitos de energia elétrica e educação saem do radar, as coletas semanais seguem ruins, sugerindo que a inflação deve seguir elevada no curto prazo. Apesar disso, não vejo motivos para alterar o cenário de IPCA, em que esperamos alta de 5,91% no IPCA de 2025 e de 4,53% para 2026”, avalia.

De acordo com a última edição do Boletim Focus, publicado pelo Banco Central na segundafeira, o mercado espera uma inflação acumulada de 5,68% em 2025, portanto, bem acima do teto da meta perseguida pelo BC, de 4,5%. Para o ano seguinte, a expectativa entre os agentes é de um IPCA na casa dos 4,4%. Na avaliação do sócio e economista- senior da Tendências Consultoria, Silvio Campos Neto, o mercado deve ter uma visão mais clara sobre a inflação em março, com os fim dos efeitos pontuais sobre educação, habitação e alimentação. “Mas, de forma geral, tirando esses fatores pontuais, fazendo uma análise um pouco mais detalhada do indicador, o que dá para ver é que há sinais de uma certa estabilização dos demais componentes, porém em níveis elevados”, considera Campos Neto. Já o professor de economia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) Benito Salomão considera que o resultado do IPCA em fevereiro reforça a desconfiança em cima dos bancos centrais do mundo inteiro.

“Hoje, em muitos países, dentro dos quais o Brasil, estamos conseguindo observar que os regimes de meta, apesar das taxas de juros elevadas, apesar de todos os esforços que vêm sendo empenhados no sentido de derrubar essa inflação, têm sido bastante ineficazes no tratamento da inflação”, disse. “Esse fenômeno da inflação pós-pandemia, de certa forma, está nos colocando, a todos nós macroeconomistas, para pensar um pouco sobre sobre os remédios conhecidos pela literatura e pela ciência para lidar com esse fenômeno.”