O Estado de S. Paulo, n. 47991, 10/03/2025. Economia & Negócios, p. B2

Pedidos de recuperação judicial têm alta de até 70% em dois anos
Cristiane Barbieri

 

 

Com a alta do endividamento das empresas, tem crescido tanto o número de reestruturações e renegociações de dívidas quanto o de novos pedidos de recuperação judicial e extrajudicial. Análise da RK Partners com base em dados da Serasa Experian mostra que os pedidos de recuperação judicial entre as empresas de pequeno porte subiram 70% nos últimos dois anos. Entre as médias companhias (faturamento até R$ 300 milhões por ano), a alta foi de 35%. As grandes, que têm acesso a capital mais barato, também sofreram: os pedidos de proteção contra credores subiram 8% entre o quarto trimestre de 2022 e o mesmo período do ano passado.

“Os balanços do quarto trimestre devem mostrar uma situação ainda mais difícil”, diz Ricardo Ricardo Knoepfelmacher, sócio da consultoria

Ainda assim, o mercado não vê risco de se repetir o que aconteceu no governo Dilma Rousseff. Em dezembro de 2014, no fim do primeiro mandato da petista, o endividamento das companhias de menor porte na Bolsa chegou a 5,4 vezes sua geração de caixa (ante 2,7 vezes atualmente), segundo estudo da assessoria de reestruturação Sêneca Evercore. A capacidade de pagamento dos custos financeiros, o chamado índice de cobertura, era de 0,5 (hoje, está em 1,4). Quanto maior o índice, maior a capacidade de a empresa pagar esses custos.

“Àquela época, tivemos dois anos consecutivos de retração no PIB, diferentemente de agora, quando temos o menor índice de desemprego da história”, diz Ricardo Lacerda, sócio do banco de investimento BR Partners. “Só aconteceria novamente se houvesse uma desaceleração súbita da economia, o que ninguém prevê.”

Além disso, dizem os especialistas, a economia brasileira se sofisticou na última década, com crescimento inédito dos mercados financeiro e de capitais. Instrumentos que permitem a tomada de crédito pelas corporações, como certificados de recebíveis e títulos de dívida, ganharam peso inexistente até então.

O levantamento da Sêneca, com base em dados do Banco Central, mostra que o crédito bancário respondia por 81,7% dos recursos tomados pelas empresas em 2015. Hoje, equivale a 50,8% do total. Já os títulos de dívida corporativos, que respondiam por 18,3% do crédito há dez anos, chegaram a 49,2% em dezembro.

“As empresas passaram a ter a oportunidade de trocar sua fonte de financiamento da mão de poucos para a de muitos”, diz Daniel Wainstein, sócio da Sêneca Evercore. “Hoje, a empresa consegue pagar taxas menores porque se formou uma grande comunidade de investidores em crédito no Brasil, que não existia até muito recentemente.”

Essa melhoria institucional, porém, não significa que os próximos anos serão fáceis. Segundo Lacerda, mesmo empresas que são grandes geradoras de caixa têm tido dificuldades para conseguir reduzir seu endividamento. “A situação só vai mudar quando houver uma sinalização clara de redução nas taxas de juros”, afirma. “Hoje, as empresas trabalham para pagar bancos.” •

Cenário

Mesmo empresas que são grandes geradoras de caixa têm tido dificuldades para reduzir passivo