Correio Braziliense, n. 22638, 14/03/2025. Negócios, p. 8
Isenção de IR rumo ao Congresso
Victor Correia
O governo vai encaminhar ao Congresso, na próxima semana, a proposta para isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais. Quem informou foi a ministra da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Gleisi Hoffmann, ontem, após encontrarse com o colega da Fazenda, Fernando Haddad. Foi a primeira reunião com um ministro desde a sua posse, na segunda-feira. “Estamos acertando a agenda com o presidente Lula para fazer esse envio, terminar os ajustes que têm que ser feitos, que a Fazenda está terminando, e nós vamos marcar”, afirmou a chefe da SRI. Ainda não há uma data definida, nem se sabe se haverá um evento para anunciar a isenção.
A proposta é uma promessa de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e uma das principais apostas para tentar reverter a queda de popularidade do governo federal. Atualmente, estão isentos do Imposto de Renda os trabalhadores que ganham até R$ 2.259,20, segundo tabela publicada pela Receita Federal. O Ministério da Fazenda estima que o aumento da faixa de isenção vai representar uma renúncia de cerca de R$ 25 bilhões em arrecadação para o governo federal. O objetivo do governo é compensar o valor com uma proposta de taxação sobre grandes fortunas. Uma das possibilidades ventiladas é a criação de um imposto de ao menos 10% sobre quem tem renda maior do que R$ 600 mil por ano, equivalente a R$ 50 mil mensais. Isso seria aplicado também sobre lucros e dividendos, atingindo a parcela mais rica da economia.
Ajuste no Orçamento
A ministra também negou que haja novos cortes de gastos no horizonte do governo. “Não tem essa pauta no Congresso. Nós já fizemos medidas de ajuste de contas no fim do ano”, respondeu. Na quarta-feira, o Ministério do Planejamento encaminhou ao Congresso um ofício que prevê um remanejamento de recursos no Orçamento de 2025, com corte de R$ 7,7 bilhões no programa Bolsa Família e inclusão de R$ 3,6 bilhões no Vale-Gás e a manutenção de R$ 1 bilhão no Pé-de-Meia. Ela disse que o corte no Bolsa Família não afetará os beneficiários. “Foi um ajuste que tivemos que fazer para ter o espaço fiscal para outros programas, mas que vai ser recuperado ao longo do ano”, garantiu Gleisi.
Como presidente do PT e deputada federal, Gleisi fez uma série de críticas à política econômica encampada por Haddad, especialmente sobre a defesa dos cortes nos gastos públicos. Sua ida para a SRI gerou incerteza sobre a condução da política econômica do governo. Desde que assumiu o cargo, porém, ela vem fazendo acenos a Haddad. “Eu estarei aqui, ministro Fernando Haddad, para ajudar na consolidação das pautas econômicas deste governo, as pautas que você conduz e que estão colocando o Brasil novamente na rota do emprego, do crescimento e da renda”, disse Gleisi, durante a cerimônia de sua posse.