Título: O movimento Agrega poder econômico à política de estados fortes
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Fonte: Jornal do Brasil, 25/05/2008, Economia, p. E4

do Banco Mundial. Hoje, estatais se expandem especialmente no setor de petróleo e gás. Desde que o preço do petróleo começou a disparar em 2004, por exemplo, Rússia, Venezuela, Bolívia e Equador protagonizaram a primeira onda de nacionalização desde a década de 70, ao estatizarem ativos petrolíferos estrangeiros. ­ É uma forma de agregar poder econômico à política para fortalecer o Estado ­ avalia Alves. ­ A Rússia, por exemplo, buscou com o ex-presidente Vladimir Putin recompor parte do poder que antes tinha enquanto líder do bloco soviético com a nacionalização de seus recursos naturais. O economista João Sicsú, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), explica que só não se recorre à prática defensiva quando se tem produção interna considerável para competir. ­ Todos os grandes países do mundo foram protecionistas em relação às suas economias nacionais e só passaram a defender o livre mercado quando já tinham porte para enfrentar a concorrência ­ analisa. ­ Governos de nações ricas são muito pródigos em apregoar o livre mercado, na casa dos outros. Países enriquecidos com a demanda de commodities encenam um contragolpe ao multilateralismo e reafirmam seu poderio. Enquanto a Venezuela nacionaliza os campos de petróleo, a Rússia ameaça cortar o fornecimento de gás natural ao lado ocidental da Europa. A inquietação atual, entretanto, dá-se em torno do ritmo em que caminha a globalização econômica. Pesquisa da BBC World Service, realizada em dezembro, revela que a maior parte das pessoas entrevistadas em mais de 20 países achava que o passo estava muito acelerado. ­ O que está sob forte questionamento é a característica neoliberal da globalização. Por conta dela, houve maior concentração de renda, aumento de desigualdades sociais e de instabilidade em muitos países ­ ressalta Sicsú. Ainda que não se trate de um movimento homogêneo, Alves acredita numa redução da marcha, que se traduz em uma desaceleração ou atenuação do processo de globalização, em resposta às mazelas trazidas pela prática neoliberal. Nos EUA, por exemplo, a recente crise financeira minou a liberdade dos mercados e demandou maior controle governamental. Quanto tal regulamentação será aumentada ainda é uma incógnita. O conselheiro da Comissão Européia Ricardo Petrella destaca diferenças entre o protecionismo das grandes potências e o de países emergentes. ­ Os ricos sistematicamente aplicam medidas protecionistas para reforçar a posição dominante ­ critica. ­ Enquanto o modo protecionista de pequenos países pobres defende seus direitos e autonomia. A tão criticada questão dos subsídios agrícolas nos Estados Unidos e Europa, por exemplo, pode ser encaixada no tipo de protecionismo das grandes potências. Socialmente, os reflexos desse atual movimento defensivo se dão em torno da questão da imigração pelo mundo inteiro. Há reações contra mianmarenses na Índia, contra haitianos no Caribe, contra bolivianos na Argentina e contra zimbabuanos na África do Sul. Restrições a imigrantes ganham apoio da opinião pública em territórios que vão dos Estados Unidos a Suíça e Índia, e configuram hoje agenda política e econômica.