Título: O caminho inverso da globalização
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Fonte: Jornal do Brasil, 25/05/2008, Economia, p. E4
Crise mundial dos alimentos e medo do desabastecimento impulsionaram o protecionismo REVERSÃO Estatais se expandem no setor de petróleo e gás na América Latina e na Europa Marsílea Gombata A crise de alimentos, que re- sultou em um número crescente de países com restrições às exportações de itens para garantir preços e abastecimento domésticos, levou instituições como as Nações Unidas e a Organização Mundial do Comércio a se preocuparem como nunca. As incertezas que fizeram com que o próprio governo brasileiro levantasse a idéia de proibir por tempo indeterminado a exportação de arroz por temer o desabastecimento interno revelam mudanças globais em um movimento que reflete a desaceleração de uma globalização até agora feroz. No contexto que se vislumbra, o mundo deixa de ser tão plano como há 10 anos, por exemplo. Diferentemente da marcha para a globalização, fronteiras e barreiras comerciais voltam a existir e governos que antes recuavam para dar a dianteira à "mão invisível" do mercado voltam a intervir no comércio com leis e regulamentações. Começa a tomar a cena o medo de que qualquer impacto estrangeiro tenha graves conseqüências na economia e política internas avalia Udo Ludwing, do Instituto de Pesquisas Econômicas de Halle, na Alemanha. Para Evaldo Alves, especialista em economia global da FGV-SP, "esse movimento atual não existe formal e declaradamente, porque vai contra as regras da OMC". No entanto, observa que, com a desaceleração econômica de países como Estados Unidos e os da Europa, em certa medida é inevitável que medidas no sentido de proteger as nações comecem a ganhar corpo e destaque pelo mundo. No novo defensionismo, ou chamado neonacionalismo por alguns analistas, o quadro é bastante diferente dos anos 90, quando Ásia, América Latina e Rússia sobreviviam de empréstimos do Fundo Monetário Internacional (FMI) e
Para Brasil, hora ideal de marcar posição Folhapr ess Marco Aurélio Pinto, do Ibmec, prefere chamar o movimento de desaceleração da globalização de proposta desenvolvimentista de cada nação. Não temos hoje uma discussão ideológica, mas sim pragmática e voltada para os números explica. No Brasil, o movimento é mais abrandado e a atual realidade é marcada pelo ingresso de dólares, por conta da taxa de juros, que tem provocado efeitos na economia, principalmente no setor exportador. As mudanças aqui se dão na esfera político-administrativa, garante João Sicsú: Depois da quebra do México, em 1994, do Brasil, em 1998, da Argentina, em 2001, e convulsões sociais sérias na Venezuela, no Equador, no Peru e na Bolívia, os mercados seguem com força. A novidade, no entanto, está em os governos perceberem cada vez mais a necessidade de que os Estados retomem mecanismos de controle econômico. Banco Central Marco Aurélio Pinto atenta para o papel fundamental que o Banco Central brasileiro terá de desempenhar frente à nova realidade. Para que não tenhamos mudança de rating e pressão sobre o câmbio, é necessário que o BC tenha uma posição de país de primeiro mundo e não subdesenvolvido alerta. É preciso que elimine constrangimentos a apoio público para transações nacionais e internacionalização de nossas empresas com dinheiro público. O que é visto como nacionalista no sentido de expandir empresas nacionais, portanto, aponta para a internacionalização. É nesse contexto, segundo o especialista, que o Brasil tem a chance de se oferecer como âncora para o capital internacional em momentos de crise. Para Evaldo Alves, entretanto, é essencial que "o Estado brasileiro desempenhe um papel de coordenar, dirigir e direcionar a economia". Somos um país em desenvolvimento. A atuação do Estado hoje tem relação direta com o tipo de país que queremos construir a médio e longo prazos. PROTECIONISMO Para evitar falta de alimentos, governos optam por medidas que reduzem expor tação