Título: Muitas engravidam para tentar prender o namorado
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 26/05/2008, País, p. A3

Nas comunidades carentes, não faltam mulheres interessadas em ligar as trompas por acharem que já têm filhos demais e dinheiro de menos. É o caso de Isabel Cristina Ferreira de Lima, 24 anos, mãe de Jonatas, 7; Isabele, 5; e Ana Beatriz, 2. No período em que esteve desempregada e sem ajuda dos pais das crianças, ela entrou em pânico quando teve de deixar de comer para alimentar (mal) sua prole.

¿ Meus amigos da favela traziam banana, que eu misturava com leite ¿ conta Isabel, sem conter as lágrimas ao lembrar da situação.

No posto de saúde da Rua 1 da Rocinha, ela ouviu uma espécie de resposta padrão dada às que vão tentar ligar as trompas.

¿ Disseram que sou muito nova e que só me colocariam na lista se eu tivesse seis filhos. Eles estão me incentivando a ter mais, é isso?

Isabela diz que na Rocinha, cujo crescimento populacional e a expansão dos barracos preocupam a prefeitura, a maioria das jovens tem uma razão para engravidar.

¿ As garotas acham que vão segurar o namorado engravidando, mas não adianta. E eles até gostam, porque pensam que a menina com filhos ficará presa, enquanto eles caem na gandaia.

Com a faxineira Janaina da Silva Almeida, 31 anos e três filhos, a luta pela laqueadura quase teve um final feliz. Ela conseguiu se cadastrar num posto de saúde de Santa Cruz (Zona Oeste) e assistiu a quatro palestras sobre planejamento familiar. Entrou na fila para esterilizar-se no Hospital Rocha Faria, em Campo Grande, mas o chamado para a cirurgia nunca chegou.

¿ Depois de um ano de espera, eles descobriram que anotaram meu nome errado na ficha. Aí, eu desisti e agora tomo pílula ¿ diz ela, que se vira com R$ 500 mensais.

Sem preservativo

Violentada pelo pai dos sete aos 15 anos, a paraibana Luciana Maria Bezerra, 28, teve o primeiro filho aos 16, nunca fez pré-natal e só conheceu o preservativo depois da terceira gravidez. Mãe de quatro crianças e com a quinta já no ventre, ela já não busca mais a laqueadura.

¿ Quero conseguir um teste de DNA para provar que esse filho que eu espero é do homem com quem vivi por seis meses e que é pai de outra filha minha.

Ela também não autorizou a necropsia no bebê que morreu de causas desconhecidas com 11 meses, há 13 anos.

¿ Meu filho não era frango para ser todo cortado. (M.M.)