Título: Jogo duro no combate ao tabagismo
Autor: Abade, Luciana
Fonte: Jornal do Brasil, 28/05/2008, País, p. A7

Ministério da Saúde parte para a ofensiva contra vício que mata 200 mil brasileiros por ano

Brasília

Bebê morto dentro de cinzeiro, coração com restos de cigarro e partes do corpo humano mutiladas. O Ministério da Saúde decidiu acirrar o combate ao tabagismo. O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, e o diretor-geral do Instituto Nacional do Câncer (Inca), Luiz Antonio Santini, lançaram, ontem, em Brasília, as novas imagens de advertência sanitárias das embalagens dos produtos de tabaco. O objetivo é provocar repulsa ao uso do produto, que mata 200 mil brasileiros todos os anos.

Segundo o Inca, a dependência ao tabaco está associado a 90% dos casos de câncer de pulmão, 85% dos óbitos por enfisema pulmonar, 40% dos derrames cerebrais e 25% dos infartos fatais.

Desde 2001, os fabricantes de cigarro são obrigados por lei a colocarem advertências sanitárias ilustradas com foto. O Brasil foi o primeiro país a lançar mão desse recurso. O Canadá foi o primeiro.

¿ Agora, as imagens são fortes e radicalizam a linha que vinha sendo adotada pelo ministério ¿ disse Temporão.

Contra os fabricantes

Segundo Santini, a idéia da campanha é agir contra a estratégia das companhias de cigarro, que têm nas embalagens dos produtos sua melhor peça publicitária.

¿ Como o fumante fica com a caixa até o cigarro acabar, divulga a marca ¿ explica o médico.

As novas imagens são baseadas em estudo desenvolvido pelo Inca entre 2006 e 2008. A pesquisa mediu a reação emocional de 212 jovens entre 18 e 24 anos, fumantes e não-fumantes, de três faixas de escolaridade, divididos igualmente entre homens e mulheres.

Uma campanha para mudar a legislação e aumentar os impostos sobre o cigarro é o próximo passo do Ministério da Saúde. Aumentar o preço do cigarro é uma das recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) para combater o tabagismo.

¿ Hoje o preço do cigarro faz parte da cesta básica ¿ criticou Santini. ¿ É um absurdo. Não devia fazer. Logo, se aumentarem o preço, aumenta a inflação. E o aumento no preço do cigarro não deve influenciar na inflação.

O fato do Brasil ser o maior produtor e o segundo maior exportador de fumo também é apontado pelo coordenador do Inca como uma barreira para combater o tabagismo no Brasil.

¿ Precisamos diversificar as culturas. Os trabalhadores ficam expostos a agrotóxicos e a cultura do fumo favorece o trabalho infantil, no Brasil ¿ argumenta Santini.

Os fumódromos também estão na mira do ministério, que espera a a aprovação de uma legislação nacional para deixar os ambientes livres da fumaça.

De acordo com estimativa da OMS, 90% dos fumantes regulares começam a fumar antes dos 18 anos. Esse número levou a OMS a considerar o tabagismo uma doença pediátrica.

O Programa Nacional de Controle do Tabagismo garante que a redução da proporção de fumantes na população passou de 34,8% em 1989 para 22,4% em 2003.

Apesar da redução na população de fumantes, os recursos destinados aos tratamentos dos pacientes vítimas do tabaco são insuficientes. Os R$ 28 milhões anuais destinados pelo ministério são, basicamente, para a compra de remédios.