Título: Cota racial vira cota social e privilegia os de menor renda
Autor: Abade, Luciana
Fonte: Jornal do Brasil, 29/05/2008, País, p. A6

Universidades públicas reservarão 50% das vagas para a rede oficial

Brasília

A polêmica em torno das cotas raciais nas universidades pode acabar na próxima semana, se o Projeto de Lei 73/99 for aprovado na Câmara dos Deputados. De autoria da deputada Nice Lobão (DEM- MA), a proposição prevê a reserva de 50% das vagas das instituições federais e estaduais de ensino superior para alunos da rede pública de ensino.

A proposição foi o tema da reunião de líderes realizada ontem na Câmara. O ministro da Educação, Fernando Haddad, saiu otimista do encontro.

¿ Foi um debate de ótimo nível ¿ disse. ¿ A discussão no Parlamento está amadurecida. O momento é oportuno em virtude da expansão da vagas das universidades públicas no Brasil. Isso favorece o debate sobre reserva de vaga.

Oferta maior

De acordo com Haddad, o número de vagas em universidades federais saltará de 124 mil em 2002 para 229 mil em 2010.

O ministro disse, também, que alguns esclarecimentos foram importantes para formar convicções sobre a questão da precedência das reservas de vagas para a escola pública. A questão racial, segundo relatou, é a grande dificuldade em votar projetos de cotas nas universidades.

¿ O entendimento do governo continua sendo o mesmo: os brancos de escolas públicas têm os mesmos direitos dos negros de escola pública ¿ explicou . ¿ Portanto, a reserva é para elas.

A subjetividade da autodefinição de quem é ou não negro era, ainda segundo o ministro, uma preocupação dos parlamentares.

Pelo projeto, os negros e índios que estudaram na rede pública de ensino terão uma cota proporcional dentro dos 50% das vagas destinadas aos alunos de escola pública. A proporcionalidade dependerá da quantidade de negros e índios que há em cada Estado.

A implementação da política de cotas deverá ser completada em um período de quatro anos, com base em um índice crescente de 25% das vagas a cada ano. O texto prevê, ainda, revisão do sistema depois de dez anos.

O presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), disse que as bancadas vão rediscutir o tema a partir das informações levadas pelo ministro. E confirmou a intenção de votar o projeto já no início de junho.

O coordenador nacional da Rede Educação e Cidadania para afro-descendente e carentes (Educafro), Thiago Tobias, garantiu que a destinação de 50% das vagas para as escolas públicas é consenso nos movimentos sociais.

¿ O núcleo duro do Brasil, os poderosos, são contrários às cotas porque sabe que elas vão dar conhecimento ao povo ¿ afirmou. ¿ O país está desperdiçando talentos. Este talento são os negros, os indígenas, os pobres. No futebol somos heterogêneos e somos os melhores. Por que não podemos ser os primeiros na Educação?