Título: Pista dos 32 caixões para restauração leva a crematório
Autor: Fausta, Cristina
Fonte: Jornal do Brasil, 31/05/2008, Brasília, p. R6

Polícia e distritais encontram indícios de recuperação em Goiás Cristina Fausta A CPI dos Cemitérios da Câ- mara Legislativa do Distrito Federal está no rastro da origem dos 32 caixões que seriam restaurados e foram encontrados em uma marcenaria, em Santa Maria. Ontem, integrantes da comissão e a Polícia Civil estiveram no Cemitério Parque e Crematório Metropolitano, em Valparaíso, em Goiás, para verificar indícios de que os caixões encontrados no DF tenham vindo do crematório. A suspeita foi reforçada. A comissão encontrou 13 caixões dentro do crematório que, segundo o gerente do cemitério, Péricles Dourado, estavam guardados no local para doação. No momento da cremação, as famílias podem optar por cremar o corpo com ou sem o caixão. As famílias que optam por cremar só o corpo doam os caixões para instituições carentes, mas geralmente não acompanham se a instituição escolhida recebeu ou não a urna. Não há no cemitério nenhum cadastro de instituições que recebam os caixões. Segundo Dourado, as que mais procuram o cemitério em busca do material são a Abrace e o Lar dos Velhinhos, que fica no Núcleo Bandeirante. O distritais pediram para ver os termos de doação das famílias. O gerente ligou diversas vezes para o proprietário do cemitério, Francisco Moacir Pinto, para questionar se poderia mostrar as dependências do cemitério, sobretudo do crematório, e os documentos. SUSPEITA ­ No Crematório de Valparaíso foram encontrados mais 13 caixões, reforçando as suspeitas dos distritais Érika Kokay e Antônio Reguffe Sydney jr O cemitério tinha os 13 ter- mos de doação, mas nenhuma tinha destinatário, ou seja, os caixões estavam lá e ninguém soube informar o que seria feito com material. Ainda segundo o gerente, os caixões não ficam guardados por mais de 30 dias no cemitério. ­ São feitas uma média de 10 cremações por mês e as caixões não podem ficar mais de 30 dias guardados. Se temos 13 caixões dentro do crematório, significa que há urnas que já estão guardadas há mais de 30 dias, isso é uma questão matemática ­ explicou a petista Érika Kokay, integrante da CPI.. O gerente tentou impedir a entrada da imprensa no local onde estavam os caixões, que foram fotografados pelas janelas do crematório. Pr ocedimentos O último contato da família com o corpo da pessoa falecida é na Sala de despedida. Depois que o corpo passa pela esteira e entra no crematório, a família não pode mais acompanhar os procedimentos. Para o deputado Antônio Reguffe (PDT), a família tem o direito de escolher se quer acompanhar ou não a cremação, que, segundo ele, é garantido às famílias de outros estados da federação. ­ É absurdo a família não ter o direito de assistir a cremação de seu ente querido. O normal seria ter um vidro transparente, que a família pudesse ver a partir desse vidro. A cremação como é feita abre suspeitas de que há um comércio paralelo de caixões ­ comentou Reguffe. Há denúncias de que os falecidos tenham seus pertences pessoais furtados depois que passam a esteira. ­Como último gesto de carinho, muitas famílias deixam anéis alianças no corpos ­ ressaltou Érika Kokay. A proibição da família acompanhar a manipulação e cremação do corpo está prevista no contrato de serviço. Também estava previsto em contrato, firmado entre o GDF e a Concessionária Campo da Esperança que, para ter o monopólio da administração dos seis cemitérios do DF, a empresa teria que construir um crematório na capital. Mas, até agora, no entanto, nunca cogitou-se cumprir essa cláusula e o governo não exigiu a medida. A CPI solicitou ao gerente que disponibilize todas as originais dos termos de doação de caixões, as notas fiscais de cremação dos anos de 2007 e 2008 e ainda o número discriminado de cremações feitas partir da empresa Campo da Esperança