Título: Rio de contrastes
Autor: Samantha Lima e Sabrina Lorenzi
Fonte: Jornal do Brasil, 18/02/2005, Economia, p. A19

O tímido crescimento da produção industrial fluminense, que ficou em último lugar em 14 regiões pesquisadas com uma expansão de 2,4% em 2004, foi mais amargo para os operários do que para os empresários. Único estado que fechou vagas, o Rio viu o número de empregos minguar 2,4% no ano. O resultado foi acompanhado pelo número de horas trabalhadas (-3,5%), contra alta de 2,2% no país. Curiosamente, o estado teve a maior alta nacional na folha de pagamento média real: 10,8%, ante os 6,9% do país. - A indústria que vem crescendo no Rio é a ligada ao petróleo, insumos básicos e siderúrgica, que contratam pouco, mas pagam bem - explica o professor David Kupfer, da UFRJ.

Uma das mais tradicionais indústrias do estado, a de vestuário teve queda de 9,2%, contra 7,5% na média nacional.

- Sentimos aumento no número de desempregados. Não tínhamos nem força para negociar o dissídio, que, depois de dois anos de discussão, foi de 5,7%. Foi um ano ruim para nós - lamenta Maria José Abreu, diretora do departamento jurídico do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Têxtil de Nova Friburgo, que congrega 2.100 dos 12 mil trabalhadores da região.

Se a queda no emprego é reflexo do nível de atividade industrial, o número de vagas só pode aumentar com a mudança no perfil de consumo - atualmente mais ligado ao avanço do crédito, o que beneficia o setor de bens duráveis - ou da própria matriz industrial. O secretário estadual de Planejamento, Tito Ryff, garante que um grupo já tem a missão de mudar o perfil da indústria fluminense, procurando atrair com incentivos fiscais um maior número de empresas produtoras de bens duráveis.

A presença dessa atividade já vem fazendo diferença no Sul do Estado. Contrariando os indicadores negativos, a indústria automotiva fluminense teve um fôlego de contratação 150% maior do que a média nacional, de 20,7%. Thiago Conceição, de 22 anos, abandonou o emprego de vendedor de bebidas e se candidatou a uma vaga na PSA Peugeot Citroën, em Porto Real. Há um ano, integra o ''turno verde'', que teve seu time de 45 profissionais reforçado em outros 22.

- Em Resende, onde moro, todos querem trabalhar na indústria de automóveis. Minha renda aumentou 100% e, com isso, consegui até ingressar na faculdade - comemora.