Título: Safra cresce, mas preços não baixam
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Fonte: Jornal do Brasil, 23/05/2008, Economia, p. A18

Relatório da ONU prevê que expansão recorde na produção de grãos fará oferta superar demanda

A produção global de cereais, como trigo, vai se expandir este ano a níveis recordes, estabilizando os preços dos alimentos, cuja alta desencadeou distúrbios em diversos países, como Haiti e Egito, informou ontem a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO, pelas iniciais em inglês).

A produção de cereais pode crescer 3,8%, para 2,192 bilhões de toneladas, puxada por um aumento de 8,7% na safra de trigo, informou ontem a FAO, sediada em Roma. A previsão é que o consumo de cereais será de 2,176 bilhões de toneladas, de forma que a oferta pode superar a demanda, pela primeira vez em três temporadas, informou a organização. Com isto, os estoques, que estão nos níveis mais baixos em 30 anos, devem aumentar, disse a FAO.

¿ A alta da oferta deve contribuir para estabilizar os mercados, mas não prevemos queda nos preços dos alimentos porque os estoques mundiais estão muito baixos ¿ disse Hafez Ghanem, vice-presidente do Departamento de Desenvolvimento Socioeconômico da FAO.

Os preços do trigo, milho, arroz e soja vêm crescendo e atingindo níveis recordes este ano, devido à redução dos estoques globais e à alta da demanda. Segundo o Banco Mundial, 33 países, entre eles o México e o Iêmen, enfrentam a possibilidade de intranqüilidade social, uma vez que os preços dos alimentos e dos combustíveis aumentaram por seis anos consecutivos. As importações mundiais de alimentos terão o custo recorde de US$ 1,04 trilhão este ano, US$ 215 bilhões a mais do que no ano passado, disse a FAO.

Os preços dos grãos também atingiram recordes devido à demanda por combustíveis alternativos, como o etanol derivado do milho, resultante dos preços recordes do petróleo bruto. O uso total de grãos para a produção de etanol vai dar um salto de 40%, para cerca de 98 milhões de toneladas, segundo previsão da FAO.

Desse total, 94% serão de milho, enquanto a produção total de milho não terá muita mudança em relação a 2007, permanecendo em torno de 779,6 milhões de toneladas.

A produção de cevada deve aumentar 9,1%, para 147,9 milhões de toneladas; a da União Européia deve ficar em 62 milhões de toneladas, uma alta em relação às 57,7 milhões de toneladas de 2007, previu a FAO. A safra de trigo foi estimada em 658 milhões de toneladas, contra as 605,1 milhões de toneladas de 2007.

A supersafra de alimentos este ano, entretanto, não impedirá que o custo da alimentação quadruplique nos países mais pobres em relação ao início da década, de acordo com a FAO.

O aumento da área plantada e o clima propício devem fazer com que a colheita de trigo seja 8,7% superior à do ano passado, e por isso o preço do produto já caiu cerca de 50 % desde fevereiro, ainda segundo a organização da ONU.

¿ Esta melhora na oferta deveria em princípio ajudar, mas não esperamos ver os preços caindo para onde estavam antes ¿ disse o diretor-assistente Hafez Ghanem, durante apresentação do relatório semestral sobre as perspectiva agrícolas globais.

O documento prevê que a oferta de arroz continuará limitada, e os países pobres que dependem da importação de alimentos podem ver seus gastos subirem até 40% em 2008, depois de um aumento semelhante em 2007.