Título: Empresários ganham apoio da Câmara contra impostos
Autor: Paulo de Tarso
Fonte: Jornal do Brasil, 18/02/2005, Economia, p. A21
Severino e Calheiros disseram ser contrários a aumento de tributos
O protesto do setor produtivo contra o aumento de impostos desembarcou ontem em Brasília e arregimentou poderosos aliados. Duzentos empresários, representando 1.300 entidades de diversos setores se encontraram com os presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), que disseram ser contrários à parte da Medida Provisória 232 que elevou o Imposto de Renda e CSLL de prestadoras de serviço. Severino, autointitulado ''porta-voz da sociedade contra essa medida que atinge em cheio o povo brasileiro'', disse ainda que pretende ainda convocar o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, para explicar o aumento de tributos e a política econômica adotada pelo governo. Pouco antes, em entrevista, ele havia dito que o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, também será convocado para explicar as altas nos juros.
- Não se pode aceitar a imposição de tecnocratas que não têm sensibilidade e não sabem o que é o trabalho - afirmou. O assunto também foi tema de uma reunião entre Severino e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Pelo tom dos discursos, o Planalto terá que negociar muito, caso pretenda aprovar a medida no Parlamento.
- O nosso pedido é para que ela não passe. Discutimos a correção da tabela do IR (de 10%), não o aumento dos impostos. Para nós, tudo o que for ônus, deve ser derrubado - cobrou o presidente da Associação Comercial de São Paulo, Guilherme Afif Domingos.
Para Afif, a saída seria revalidar a MP, mantendo apenas a correção da tabela. Os demais pontos poderiam ser encaminhados ao Congresso por intermédio de um projeto de lei.
- Editar uma MP, na calada da noite, é traição. Tirem a faca do nosso pescoço que a sociedade admite conversar - afirmou o empresário.
O presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, disse não ter dúvidas de que a MP é nociva para a sociedade. Apesar de fazer parte da frente de empresários que esteve ontem em Brasília, Skaf adota uma postura mais moderada.
- Não podemos interromper o diálogo. Desde que, é claro, este diálogo leve à solução do problema - justificou.
Skaf acrescentou que o aumento dos impostos, aliado ao gasto público elevado e ao aumento consecutivo da taxa de juros, tornaram-se um câncer a ser combatido. No fim da tarde, os empresários se encontraram com o secretário da Receita, Jorge Rachid, mas terminou sem qualquer definição.
Renan Calheiros cobrou do governo a retomada da votação da reforma tributária, estacionada no Congresso desde o primeiro semestre do ano passado.
- Este projeto não pode ficar parado em algum escaninho. Quanto à MP 232, vamos conversar. Esse gabinete estará com as portas abertas permanentemente - garantiu.
Durante o ato da Câmara, no entanto, alguns deputados, como Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) e Odacir Zonta (PP-SC), ligado aos ruralistas, defenderam a rejeição ''sem negociação'' da MP.
A Comissão Executiva Nacional do PFL decidiu hoje fechar a questão contra a medida provisória 232.