Título: Droga invade Zona Sul
Autor: Marco Antônio Martins
Fonte: Jornal do Brasil, 21/02/2005, Rio, p. A13
Especialistas demonstram preocupação após reportagem publicada ontem no 'JB'
A presença do crack nas bocas-de-fumo dos morros do Rio surpreendeu especialistas em segurança pública. Todos defendem campanhas de prevenção para impedir que a droga se transforme em uma nova espécie de febre no estado. Na opinião dos profissionais, o crack causa um grande impacto social. Além de ser vendido nas favelas, a polícia já tem informações de que o crack é distribuído a viciados na Zona Sul e Centro da cidade. Na edição de ontem, o Jornal do Brasil publicou a informação de que os jovens traficantes que dominam a venda de drogas em favelas do Rio deixaram a resistência de lado.
Policiais civis têm informações sobre um Monza Azul utilizado por traficantes vindos de São Paulo para distribuição da droga em Copacabana.
Já se sabe que o veículo utiliza uma placa fria. Há também informações sobre duas motos que fariam entregas de crack no Flamengo, próximo à Rua Silveira Martins. Um dos veículos está registrado em nome de um morador de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Mas, a moto foi vista ainda em Botafogo e Copacabana. Locais em que recebeu a maior parte de suas multas. Policiais suspeitam que o Morro dos Tabajaras em Copacabana seja um dos pontos principais para o fornecimento das pedras de crack.
¿ Esse é um assunto extremamente grave. O crack é brutalizante e explica grande parte das chacinas em família ¿ resume o prefeito Cesar Maia, que busca informações sobre medidas a serem tomadas.
Agora, é possível encontrar o crack junto à cocaína e à maconha. De acordo com estudiosos, o consumo da droga representa um aumento nos delitos relacionados ao patrimônio como roubo a pessoas ou furtos.
¿ Passa a se ver jovens cercando pessoas na rua para praticar esses pequenos assaltos. É muito semelhante ao que a gente tem notícia do Rio sobre turistas cercados nas praias ¿ afirma Guaracy Mingardi, diretor científico do Instituto Latino Americano das Nações Unidas (Ilanud), de São Paulo.
Para o presidente do Conselho Estadual Anti-Drogas (Cead), Murilo Asfora, é preciso um trabalho de conscientização nas escolas públicas. Segundo ele, esta seria uma das formas de orientar os adolescentes e assim impedir que a droga seja disseminada no Estado do Rio.
¿ A idéia é que os professores levem esta discussão para a sala de aula. Assim, podemos tentar dizer de forma mais direta a essa garotada que problemas são causados pelas drogas. Temos todo um projeto elaborado que prevê o treinamento de professores para a orientação dos alunos ¿ conta Asfora, informando que o projeto foi aprovado pela governadora Rosinha Matheus.
O Cead abriga uma das demonstrações da presença do crack no estado. Só no ano passado 183 pessoas procuraram a unidade para tratamento. Ou seja, cerca de 15 dependentes a cada mês. Gente como A., 28 anos, que durante a dependência chegava a pagar R$ 5 por uma lata vazia, onde fabricava o crack.
¿ A pessoa fica cega com a droga. Ns primeira vez em que usei, saí correndo sem saber para onde ia ¿ comentou o viciado, que perdeu tudo o que tinha e atualmente mora em um abrigo da prefeitura.
Para o pesquisador Cesar Caldeira, a presença da droga no estado é ¿um péssimo negócio patrocinado pelos jovens traficantes¿.
¿ Ainda há tempo para medidas de prevenção. É preciso que o Estado se mobilize e elabore uma campanha, antes que a situação fuja de controle ¿ defende o pesquisador.