Título: Franceses são opção para Angra 3
Autor: Luciana Collet
Fonte: Jornal do Brasil, 21/02/2005, Economia, p. A19

Presidente da Areva se reúne com Dilma e revela que grupo quer voltar a cooperar com programa nuclear brasileiro

Após ter construído Angra 2 e fornecido boa parte dos equipamentos para Angra 3, o grupo francês Areva, que atua nas áreas de energia nuclear, transmissão e distribuição de energia e conectores, busca uma nova cooperação com o Brasil para desenvolvimento do programa nuclear nacional.

Em visita ao país, a presidente mundial da Areva, Anne Lauvergeon, encontrou-se com os ministros Dilma Rousseff (Minas e Energia), e Luiz Gushiken, (Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica), além de representantes de antigos parceiros, como as Indústrias Nucleares do Brasil (INB) e a Nuclebrás Equipamentos Pesados (Nuclep) para oferecer apoio em novas operações.

- O Brasil terá um papel importante no futuro e queremos criar uma base sólida aqui, como a que já temos na Europa, Estados Unidos e China - afirmou.

Anne Lauvergeon afirmou querer entender a vontade do Brasil de encaminhar o programa nuclear para então oferecer uma ''cooperação industrial forte'', mas ''flexível'' às intenções do país.

- A energia nuclear é importante na criação de um mix energético que possibilite segurança e independência ao sistema - ressaltou.

Mesmo sendo líder mundial no desenvolvimento de reatores e na fabricação de combustível - desde a mineração do urânio (que já é explorado no subsolo brasileiro), até o seu enriquecimento (que o país começa a realizar) e a posterior manufatura -, a presidente não quis revelar eventuais intenções de se estabelecer no país com uma ou mais destas unidades de negócios.

Apenas descartou a possibilidade de reprocessar e reciclar o combustível nuclear usado, ''porque não há essa necessidade ainda''.

Além de futuros negócios com o Brasil, Anne Lauvergeon está interessada na conclusão do projeto da usina de Angra 3, para a qual a Areva já forneceu quase US$ 1 bilhão em equipamentos que hoje estão armazenados em um local especial, que consome US$ 20 milhões em manutenção, para que nada se deteriore.

- Sabemos que a energia nuclear brasileira tem alto custo em relação à abundante energia hidrelétrica, mas no mundo se leva cinco anos para construir uma central nuclear e 20 anos para amortizá-la; por aqui se leva 20 anos para construir e outros cinco para recuperar o investimento. É necessário um balanceamento, assegurando rentabilidade - afirmou.

Ela assegurou que, ainda que os equipamentos tenham sido fornecidos por volta de 1985, quando os trabalhos em Angra 3 foram interrompidos, a Areva se compromete a realizar uma atualização, ''de forma que a usina tenha instalações, controle e comando do ano 2000''.

Anne também declarou que a unidade de São Paulo da Areva de transmissão e distribuição (T&D), que fornece produtos para mercados de alta e média tensão, deve receber algum investimento, visando desenvolver as exportações para os Estados Unidos. Além dos bons resultados verificados nas exportações brasileiras do segmento, que representaram 30% do faturamento de US$ 200 milhões, a empresa está de olho na diversificação do risco da moeda.

- Hoje a relação real-dólar é melhor que a euro-dólar - disse.