Título: Eleição revela fragilidade do Planalto
Autor: Paulo de Tarso Lyra e Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 15/02/2005, País, p. A3
Disputa apertada para a presidência da Câmara e derrotas em outros postos põem em xeque o poder do governo no Congresso
A eleição para a Mesa Diretora da Câmara, que serviu como mapeamento para a reforma ministerial pensada pelo Planalto, demonstrou a fragilidade política vivida pelo governo no Congresso. Além da disputa apertada para a presidência da Casa - a tendência, até o início da noite de ontem, era a decisão apenas em segundo turno - o Executivo teve de amargar derrotas expressivas em outros postos, como a segunda vice-presidência e a primeira secretaria, cargos destinados, respectivamente ao PP e ao PMDB.
A principal derrota para o Planalto ao longo do dia veio do PMDB, partido que mais tem dado dor de cabeça aos articuladores políticos da Câmara. O candidato Henrique Eduardo Alves (RN), que contava com o apoio do líder José Borba (PR) para a primeira-secretaria, foi derrotado na bancada pelo deputado Waldemir Moka (MS). O placar interno foi surpreendente: 54 peemedebistas votaram em Moka, enquanto apenas 31 parlamentares apoiaram Alves.
O resultado põe em xeque ainda mais o poder do bloco governista no PMDB. Nas últimas duas semanas, a legenda sofreu um processo de inchaço, patrocinado inicialmente pelo ex-governador do Rio, Anthony Garotinho, que atraiu, de uma só vez, sete parlamentares, aumentando a bancada para 86 deputados. O objetivo era provocar uma rebelião interna e destituir Borba da liderança, colocando Saraiva Felipe (MG) em seu lugar.
Os governistas do PMDB reagiram e filiaram quatro parlamentares, aumentando a bancada para 90 e empatando com o PT na posição de maior bancada da Câmara. Este número poderá aumentar ainda mais, alterando a correlação de forças na Casa. O maior partido aliado poderá cair nas mãos de um grupo de oposição ao Planalto.
- O cargo de líder é uma decisão de bancada. Por enquanto, estou líder, mas atenderei ao chamado democrático caso os meus liderados desejem rever esta condição - disfarçou Borba, de forma evasiva.
Outro que decidiu pregar um susto no Planalto foi o PP, que luta para conseguir o seu primeiro ministério, mas sofre com a demora do governo em definir a pasta que caberá à legenda. Inicialmente, falou-se no Ministério dos Esportes. Depois no da Pesca. Mas até ontem nem os próprios líderes estavam seguros do desembarque do partido na Esplanada. Os aliados do candidato à presidência da Câmara, Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), pretendiam depositar seus votos no deputado Ildeu Araújo (PP-SP), candidato à segunda vice-presidência. Mas ele retirou a candidatura e o nome oficial do partido passou a ser o de Ciro Nogueira (PP-PI) - parlamentar que apoiava explicitamente o candidato Severino Cavalcanti (PP-PE) para a presidência da Casa.
- Essas eleições vão provocar uma fratura na bancada governista ainda maior do que as eleições municipais de 2002 - resumiu o deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA).
A análise foi corroborada pelo ex-líder do PPS na Câmara, Júlio Delgado (MG). O partido aprovou a formação de um bloco parlamentar com PDT, PSB, PV e PCdoB, rachando ainda mais os partidos de sustentação do governo. O bloco, se consolidado, pode contar com 68 parlamentares, contra 90 deputados do PT. Os petistas, contudo, se vêem ameaçados pelo inchaço do PMDB e com o fantasma da formação de uma aliança entre pefelistas e tucanos, que poderiam ultrapassar 50 deputados.
- As trapalhadas do governo e do PT podem criar uma crise institucional no país - afirmou o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ).