Título: Atentado mata ex-premier
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Fonte: Jornal do Brasil, 15/02/2005, Internacional, p. A7
Ataque com 300 quilos de explosivos destrói carros blindados e abre cratera de 3 metros no coração de Beirute
BEIRUTE - Um atentado no centro de Beirute ontem matou o ex-premier libanês Rafik al Hariri e mais 12 pessoas, deixando outras 100 feridas. O ataque ocorreu pouco antes das 13h e destruiu mais de 20 carros, que faziam parte do comboio que levava o ex-premier. Estima-se que tenham sido utilizados cerca de 300 kg de explosivos. Em uma fita divulgada na rede Al Jazira, um grupo islâmico até agora desconhecido assumiu a autoria do ataque. O ¿Vitória e Jihad¿, que disse atuar na Síria, no Líbano, na Jordânia e nos territórios palestinos, afirmou ter assassinado Hariri por suas relações com a Arábia Saudita.
¿ Por aqueles que morreram em mãos dos sauditas decidimos aplicar o castigo justo contra os que apóiam esse regime ¿ disse um homem com um turbante branco e barba, ao ler um comunicado.
A autenticidade da fita não chegou a ser confirmada.
O ataque ocorreu em frente ao famoso hotel St. George ¿ que teve a fachada destruída ¿, em uma das áreas mais nobres da capital. A explosão, que destruiu carros blindados, abriu uma cratera de 3 metros de profundidade e 10 metros de largura e quebrou vidraças num raio de mais de um quilômetro.
Transeuntes e equipes de emergência tentaram socorrer os feridos, inclusive um homem que escapou, com a cabeça e as roupas em chamas, pela janela de um dos carros. O fogo foi apagado, mas não há informações se ele conseguiu sobreviver.
¿ Foi uma cena de grande carnificina ¿ comentou à CNN o jornalista Robert Fisk, que presenciou a cena.
O ex-ministro libanês da Economia Basil Fuleihan, que também estava no comboio, foi internado com ferimentos graves e se encontra em estado crítico.
Logo após o incidente, líderes de todo o mundo manifestaram repúdio ao ataque.
Na França, o presidente Jacques Chirac emitiu um comunicado no qual apelou para que fosse feita uma investigação internacional ¿para determinar as circunstâncias e os responsáveis pela tragédia¿.
Na vizinha Síria ¿ país que mantém 16 mil soldados no Líbano ¿ o presidente Bachar al Assad condenou o que chamou de um ¿terrível ato criminoso¿ em um telefonema ao governante libanês Emile Lahud.
¿ Este crime horrível está destinado a acertar um golpe na unidade nacional e na paz civil no Líbano ¿ disse Assad, insistindo que seu país mantinha uma relação sólida com Hariri.
As disputas entre o ex-premier e o presidente libanês Emile Lahoud sobre o controverso papel de Damasco no Líbano motivaram, em grande medida, a renúncia de Hariri em outubro. A Síria domina o país política e militarmente.
Em declarações, Lahoud considerou o ataque um ¿marco negro na história nacional¿.
O Irã, que assim como a Síria apóia o grupo militante Hisbolá, atuante no Sul do Líbano e considerado organização terrorista pela ONU, também repudiou o atentado e acusou Israel. Segundo o porta-voz do ministro de Relações Exteriores Hamid Reza Asefi, ¿somente o regime sionista teria capacidade de empreender uma operação como esta¿.
Nos Estados Unidos, o governo Bush descreveu Hariri como um homem que lutou ¿incansavelmente¿ para reconstruir um Líbano ¿livre, independente e próspero¿ depois da guerra civil que assolou o país por anos e da ocupação estrangeira.
¿ Este assassinato é uma terrível lembrança de que os libaneses devem ser capazes de perseguir suas aspirações e determinar seu futuro político, livre da violência e da ocupação síria ¿ disse o porta-voz da Casa Branca, Scott Mc Clellan.
À tarde, manifestantes se reuniram diante da casa do ex-premier, gritando palavras de ordem contra a Síria, e fecharam estradas no Norte. O funeral de Hariri será amanhã.