Título: Brasil, educação e turismo
Autor: Antônio Ermírio de Moraes
Fonte: Jornal do Brasil, 23/01/2005, Outras opiniões, p. A11

Fiquei surpreso ao saber que 2004 será registrado com um ano de recordes em matéria de turismo. Apesar da onda de terrorismo, das guerras localizadas e das ameaças de epidemias como, por exemplo, a Sars (pneumonia asiática), o turismo mundial cresceu cerca de 10% em relação ao ano passado.

É verdade que os últimos três anos apresentaram números bastante deprimidos, inclusive 2003, quando o turismo mundial cresceu apenas 1%. Mas a expansão de 2004 foi expressiva, refletindo o clima geral de confiança que dominou os consumidores ao longo do ano. Para 2005, espera-se a consolidação dos atuais resultados (World Tourism Organization, 2004) o que será bom para o emprego e o progresso em geral. O turismo emprega 10% da força de trabalho mundial e gera US$ 3,5 trilhões por ano.

O Brasil tem tudo para ser um grande pólo de turismo. O Plano Nacional de Turismo do governo federal prevê aumentar o número atual de visitantes estrangeiros de 4 milhões para 9 milhões e gerar US$ 8 bilhões até 2007, criando-se um adicional de 1,2 milhão de postos de trabalho.

Quando se fala em potencial de turismo é bom não esquecer as imensas possibilidades dos visitantes nacionais. O referido plano pretende aumentar o número daqueles visitantes de 40 para 65 milhões naquele período. E isso parece viável. Já há bons sinais no horizonte. A leve melhoria do emprego ocorrida em 2004 e a elevação da renda de alguns grupos de pessoas fizeram aumentar de forma substancial a demanda por ônibus novos, o que manterá a operação dos fabricantes com 100% de sua capacidade em 2005.

Se, de um lado, as metas parecem realistas, de outro, para se chegar lá, teremos de superar vários problemas. O mais imediato é o controle da violência urbana que passou a fazer pontaria nos turistas que visitam as nossas belezas naturais. Um absurdo.

Outro problema diz respeito à burocracia nos aeroportos. Os turistas estrangeiros, mesmo os que vêm para congressos científicos, convenções ou negócios, amargam longas horas nas filas do desembarque nos aeroportos do Brasil. Isso desanima qualquer um.

Finalmente, há o eterno problema da falta de pessoal qualificado para o setor. O Senac desenvolve um belo trabalho na formação de profissionais para gastronomia, restaurantes e hotéis. Mas ainda é pouco. Para atender às novas necessidades, o Brasil terá de ampliar muito as instituições voltadas para a formação de pessoal nessa área.

Como se vê, os velhos problemas de infra-estrutura e hotelaria estão se resolvendo. O Brasil possui boas acomodações em lugares pitorescos e agradáveis, tanto para lazer como para trabalho.

Equacionamos os problemas que dependiam de capitais e de engenharia. Faltam resolver os que dependem de educação e administração. Sem isso, o plano não sairá das boas intenções.