Título: Propina era paga a prazo e foi entregue no palácio
Autor: Quadros, Vasconcelo
Fonte: Jornal do Brasil, 14/06/2008, País, p. A3

A Polícia Federal conseguiu comprovar que Lauro Maia recebia comissão da quadrilha com uma persistentes vigilância sobre o trajeto de parte do dinheiro desviado, uma propina de quase R$ 72 mil dividida em prestações. A primeira parcela, paga no dia 24 de março deste ano, se referia a comissão de um contrato "vencido" pela Líder para fornecimento de mão de obra, e seguiu cumpriu um itinerário que começou na sede da empresa, em João Pessoa, e foi terminar na residência oficial da governadora Wilma Faria, onde Lauro ¿ embora lá não residisse ¿ recebeu o dinheiro.

A propina estava acondicionada numa pasta entregue pelo secretário-adjunto de Esporte e Lazer, João Henrique Bahia Neto. O assessor se deslocava de suas funções na Secretaria de Esporte e Lazer para exercer o papel de carregador de pastas com propina para o do filho da governadora.

Ao retornar de João Pessoa, Bahia Neto foi detido no Aeroporto de Natal. Os policiais abriram a pasta e lá estavam os R$ 35.900.00 equivalentes à primeira prestação da propina. Em vez de prendê-lo, os agentes fizeram de conta que acreditaram na origem lícita do dinheiro e o liberaram. Era uma tática que a polícia chama de ação controlada, cujo objetivo é chegar ao destino final da propina.

Grampo

No dia seguinte, o secretário adjunto, flagrado no grampo oficial, telefonou para Lauro avisando que precisava entregar "aquela coisa". Os dois combinaram encontrar-se na residência oficial. Os policiais registraram com uma câmera Bahia Neto entrando no carro com a mesma pasta, ingressando na residência oficial e depois voltando para a secretaria. A segunda parcela do contrato, no mesmo valor de R$ 35.900,00, foi entregue 46 dias depois, na casa de Lauro, quando a Líder recebeu outra parte do valor do contrato. Os detalhes estão minuciosamente descritos no inquérito policial e ilustram um modus operandique se repetiu, segundo a polícia, dezenas de vezes nas ações da quadrilha nos últimos três anos.

Surpreendida com a prisão do filho e as suspeitas que pairam sobre o Palácio Potengi, a governadora Wilma Maia sentiu-se mal e se disse estarrecida com o desfecho da operação. Por meio de sua assessoria, a governadora informou que não tinha conhecimento de qualquer suspeita envolvendo servidores ou o filho na Secretaria de Saúde.

A operação da Polícia Federal envolveu 190 homens e terminou com 13 presos, 42 buscas em endereços, a apreensão de R$ 260 mil em dinheiro ¿ parte escondida numa parede falsa de uma das empresas ¿ 15 automóveis de luxo e duas motos. Entre os veículos levados pela PF estava um Honda Civic dourado, ano 2008, que pertence a Lauro Maia e que teria sido adquirido com dinheiro de propina. A polícia vai agora levantar o patrimônio dele e de outros membros da quadrilha para pedir o seqüestros dos bens. (V. Q.)