Título: Obama McCain
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Fonte: Jornal do Brasil, 15/06/2008, Internacional, p. A25

À esquerda do ringue, o democrata que promete atacar a recessão. À direita, o republicano que busca convencer o mundo que o Iraque é bom negócio Por Juliana Anselmo da Rocha

B arack Obama pode en- carnar a resposta procurada por 76% dos americanos, que consideram que seu país está indo na direção errada, segundo dados do Instituto Gallup. Aos 47 anos, o senador por Illinois e candidato democrata nas eleições de novembro nos Estados Unidos atrai particularmente a confiança de eleitores jovens e mulheres solteiras, membros da intelligentsia do país, com alto grau de escolaridade, pouco ligados à religião e moradores de centros urbanos. ­ Caso vença em novembro, Obama entrará no Salão Oval focado em política interna, muito parecido com Bill Clinton, em 1993 ­ aposta James Lindsay, diretor do Centro Robert S. Strauss para a Segurança e a Lei, da Universidade do Texas. ­ Os brasileiros podem ter certeza de que problemas domésticos serão atacados primeiro, em detrimento de questões externas. Lindsay aposta que "o racismo não impedirá a eleição de Obama". Sua vitória estaria mais ligada "à capacidade de fazer uma boa campanha do que à afrodescendência". São três os tópicos que mais influenciam o voto americano em novembro: em primeiro lugar a recessão econômica, marcada pelo aumento da taxa de desemprego e a impopular política de corte de impostos de Bush, que beneficia grandes contribuintes em detrimento da classe média, em segundo, a guerra no Iraque e, em terceiro, a alta dos combustíveis. É nebulosa a batalha entre Obama e o rival, John McCain, quanto o assunto é o top-of-mind das preocupações americanas. James Savage, analista político da Universidade de Virgínia, adverte que pouco mais pode ser feito para salvar o bolso do cidadão americano. ­ O mundo está mudando e a influência federal na economia é bem diferente da que costumava ser ­ pondera. ­ Tanto Obama quanto McCain farão mudanças na política fiscal. Ambos estão preocupados com o custo da guerra no Iraque, com o déficit elevado dos EUA, que estão sempre emprestando dinheiro a outros países. Mas as escolhas da política monetária para a qual podem apelar são restritas e já fazem parte da recuperação econômica. Em discursos de campanha, Obama afirmou que pretende retirar as tropas americanas do Iraque "dentro de 16 meses" e que não irá construir nenhuma base permanente no país nos moldes das que existem no Japão, na Alemanha e na Coréia. O plano angariou a simpatia da comunidade interna e mundial. ­ Mas existe uma informação não divulgada: o Iraque é o sexto maior fornecedor de petróleo para os EUA, superando até a Arábia Saudita. Quando esta realidade se impuser, realmente deixaremos o Iraque? ­ questiona Savage. ­ Obama diz que sim e acredito que o fará em termos militares. Mas existem muitos outros tipos de contrato, que fazem com que os iraquianos se sintam colonizados pelos EUA. Quanto a essa dependência econômica, Obama não tem uma posição clara. Segundo Terry McCoy, do Centro de Estudos para a América Latina da Universidade da Flórida, "devido à infelicidade para com a administração de Bush há uma crença generalizada de que os democratas vencerão o pleito de novembro". Fato que dará a Obama um Congresso favorável às suas idéias, ampliando seu campo de ação.

J ohn McCain precisa ampliar a margem de americanos satisfeitos com os rumos do país: apenas 18% concordam com as escolhas feitas por seu colega no poder, o presidente George Bush, segundo dados do Instituto Gallup. Aos 71 anos, o senador pelo Arizona e candidato republicano nas eleições de novembro nos Estados Unidos conta com o apoio de eleitores brancos de meia-idade e mães, braços da classe trabalhadora com baixa escolaridade, fortes convicções religiosas e moradores de áreas rurais. ­ A paixão de McCain é a política externa e podemos esperar que a guerra contra o terrorismo seja seu foco ­ sugere James Lindsay, da Universidade do Texas. ­ O terrorismo segue como uma ameaça. Não existem respostas fáceis para o Iraque, Afeganistão ou Paquistão. Por ser republicano e, conseqüentemente, um defensor do livre comércio, McCain soa como boa opção para os brasileiros. Ele encerra a chance de revisão dos subsídios dados a produtores americanos que dificultam a conquista do mercado dos EUA pelo Brasil, especialmente os que recaem sobre o etanol de milho ­ o que beneficiaria a produção do etanol de cana brasileiro. Rafael Ióris, professor de relações internacionais do Ibmec, garante que Obama "traria maior estabilidade para a macropolítica internacional". O candidato democrata também afirmou que "apoiaria a entrada do Brasil no Conselho de Segurança da ONU ­ algo que tem sido objeto de desejo da diplomacia nacional há algum tempo". ­ Nem McCain nem Obama têm experiência com América Latina e não farão da região o foco de suas políticas externas. É difícil dizer qual seria o melhor candidato para a região, e mesmo se os latinos concordam quanto ao que querem do próximo presidente americano ­ conclui Lindsay. A guerra no Iraque, segunda maior preocupação do eleitor americano, atrás apenas da recessão econômica, continuará inalterada com a eleição de McCain. O político não só deu indicativos de que "ficará lá indefinidamente" como estabelecerá bases militares no país, como as vistas no Japão, Alemanha e Coréia, revelou Savage. A linha dura do republicano se estenderia também ao Paquistão e ao Afeganistão, no Oriente Médio, e à Cuba, no Caribe. ­ Vale notar que McCain e Bush são pessoas muito diferentes. McCain pode ser considerado um moderado, mas terá de assumir posições mais conservadoras para não desagradar a base republicana ­ avalia James Savage, da Universidade da Virgínia, lembrando que o senador pelo Arizona votou contra os impopulares cortes nos impostos propostos por Bush e foi criticado por seu partido. Inicialmente McCain também era contra o patrulhamento das fronteiras, mas seus eleitores no extremo sul culpam os "chicanos" que cruzam ilegalmente o território pelo aumento das taxas de desemprego, exigindo posições mais duras. ­ Caso Ted Kennedy, afastado devido a um tumor no cérebro, não volte à vida pública, os imigrantes perderam uma voz forte de defesa no Congresso e enfrentarão mais problemas ­ diz Terry McCoy, da Universidade da Flórida.