Título: Brasil, o país dos recordes
Autor: Rosa, Leda
Fonte: Jornal do Brasil, 15/06/2008, Economia, p. E4

Indicadores inéditos na história recente contrapõem futuro promissor com problemas antigos

Leda Rosa

São Paulo

Nos últimos meses, o brasileiro tem se deparado com recordes sucessivos na economia nacional. A maior parte merece comemoração, como a marca de 1 milhão de empregos gerados até maio ou o crescimento de 5,8% do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre. Com eles, são divulgados números que reavivam problemas antigos como a carga tributária ou a maior taxa de juros mundial.

¿ O Brasil vive um período de recordes, mas não somos um país de recordes como a China, com recordes de crescimento. Experimentamos frutos do crescimento do passado, especialmente dos ajustes das últimas duas décadas ¿ avalia Paulo Mol, economista da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

O clima positivo começa no PIB ¿ o total de riquezas (bens e serviços) produzido pelo país ¿ que somou R$ 665,5 bilhões no 1º trimestre de 2008 e foi recorde, com crescimento de 5,8% sobre o mesmo período de 2007. Os reflexos se espalham e criam um círculo virtuoso nos empregos formais. É prevista a criação de 1,8 milhão de novos empregos até dezembro, segundo o Ministério do Trabalho. Os investimentos estrangeiros diretos assinalaram crescimento de 84,3% sobre 2007. Houve sucessivos recordes conquistados pela Bolsa de Valores depois da concessão do grau de investimento ao país por duas das maiores agências de risco mundiais.

Outra boa notícia veio da zona rural. A safra agrícola (133,2 milhões de toneladas) superou o recorde anterior de 2003 (119,3 milhões de toneladas). As expectativas para as colheitas de 2008 não são menos otimistas e reforçam o papel do país no mercado agrícola frente à crise mundial de alimentos que alavancou, em média, 83% o preço dos alimentos desde 2005, com destaque para o forte reajuste nas cotações do milho (31%), arroz (74%) e trigo (130%).

Carga tributária

Entre os números negativos, o que provavelmente mais irrita o brasileiro é a carga tributária, cuja trajetória ascendente parece ser imune aos governos de todos os partidos, do PSDB ao PT. A aprovação pela Câmara da Contribuição Social para a Saúde (CSS), clone da extinta Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), é mostra da sanha arrecadatória do governo, que penaliza a classe média e os mais pobres, há décadas. A taxa de juros real é outro recorde constrangedor, no qual o Brasil tem a liderança mundial há mais de 10 anos. Como se não bastasse, ainda há o déficit nas transações correntes, que alcançou US$ 14,068 bilhões até abril, empurrado pelas importações e remessas de lucros crescentes. Segundo o Banco Central, o valor já supera a projeção da própria instituição para os 12 meses do ano.

¿ O caminho a percorrer ainda é maior do que o já trilhado, e ele caberá aos novos governos, especialmente se quisermos que o crescimento de hoje se mantenha ¿ diz Paulo Mol.