Título: União recorre para tropas seguirem na Providência
Autor: Raposo, Fred; Victal, Renata
Fonte: Jornal do Brasil, 20/06/2008, Cidade, p. A10

A Procuradoria Regional da União apresentou um pedido de suspensão da decisão da 18ª Vara Federal do Rio de Janeiro, que determinou a retirada do Exército do Morro da Providência. O procurador regional da União, Daniel Levy, sustenta que a decisão da 18ª Vara "configura grave lesão à ordem pública, uma vez que não se trata de questão envolvendo segurança pública, mas sim de apoio fundamentado a um projeto social".

Segundo Levy, para o cumprimento da decisão seria necessário prazo razoável para a desmobilização do efetivo do Exército. Segundo ele, ao contrário do que afirma o despacho da juíza Regina Coeli, o Exército não precisa de autorização do presidente da República ou do Congresso para ocupar o local, já que seu papel no morro é apoiar uma ação do Ministério das Cidades.

O defensor público André Ordagcy, disse que o Exército deveria deixar imediatamente a favela, em obediência à determinação judicial

¿ Ainda que recorram, os militares têm que sair. A retirada tem que ser imediatamente. Só com a suspensão da decisão da juíza é que o Exército poderá permanecer ali.

Autor do recurso, o procurador regional da União, Daniel Levy de Alvarenga, discorda.

¿ A decisão não pode ser executada porque não estabelece prazos. A decisão, por si só, não as esclarece.

Na avaliação do ministro da Defesa, Nelson Jobim, se o Exército tiver mesmo que deixar o morro da Providência, as obras do projeto Cimento Social serão paralisadas:

¿ A retirada das tropas significa a paralisação das obras. Se isso acontecer, o Poder Judiciário vai ter que dar uma solução

Indiciamento por homicídio

Ontem, os 11 militares do Exército envolvidos na morte de três jovens do Morro da Providência foram indiciados por homicídio triplamente qualificado. O delegado titular da 4ª DP (Central), Ricardo Dominguez, considerou como agravantes o motivo torpe, o uso de meio cruel e a dificuldade de defesa das vítimas. Eles poderão ser condenados a até 30 anos de prisão. Foi feito o pedido de quebra de sigilo telefônico dos militares.

¿ Todos tinham conhecimento de que estavam em lugar diferente, e ciência do resultado do que seria a entrega desses jovens ¿ ressaltou Dominguez. ¿ Houve tempo suficiente para que tomassem uma atitude. Nenhum deles procurou o comando para contar o que tinha acontecido.

O delegado está instaurando um novo inquérito para identificar e prender os autores do assassinato. Segundo ele, não há dúvidas de que houve um contato entre os militares e os traficantes da Mineira.

¿ Os militares não conseguiriam chegar ao Morro da Mineira sem que houvesse disparo de arma.

Os militares também respondem a um inquérito das Forças Armadas. O Ministério Público Militar pediu a prisão preventiva de quatro dos envolvidos à Justiça Militar, que foi aceita no início da noite. Eles são o tenente Vinícius Ghidetti, o sargento Leandro Bueno e os soldados José Ricardo Rodrigues Araújo e Fabiano Eloi dos Santos.