Título: Eles são aliados. Mas nem tanto
Autor: Falcão, Márcio
Fonte: Jornal do Brasil, 22/06/2008, País, p. A3
Em muitas situações, a base governista dá mais dor-de-cabeça do que a própria oposição.
A cúpula do governo tem passado um aperto nos bastidores para administrar o chamado fogo amigo. São cobranças de cargos, apresentação de projetos que não agradam em nada a equipe econômica e até mesmo abandono nas votações mais importantes. A base governista não se preocupa nem mesmo em disfarçar a artilharia pesada. E o pior é que são poucas as estratégias governistas para reverter à situação.
A avaliação dos líderes alinhados com o Palácio do Planalto é de que a delicada relação com a base se dá diante do farto rol de apoiadores ¿ atualmente em 13 partidos ¿ para a manutenção da governabilidade. O consenso entre os líderes é que o melhor é ter sempre um incêndio a apagar, do que ter a todo o momento que escalar um exército para conseguir aprovar a agenda do Executivo no Congresso. A última brasa acessa pelos aliados chegou a colocar em risco a permanência do ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, no governo.
Pedido de demissão
Pressionado pelo PSC, que reclamava da demora da Petrobras para nomear uma indicação do partido para a nova subsidiária da estatal, que cuidará de biocombustíveis, Múcio foi ao presidente entregar o cargo. Sentiu-se desmoralizado, uma vez que foi negociar pessoalmente com a diretoria os pedidos dos aliados. Com a rebeldia do PSC, líderes do PMDB, principal partido da base aliada, fizeram coro e lembraram que um apadrinhado do partido ainda não ocupava a prometida cadeira na diretoria internacional da empresa na Argentina e Américas. O presidente assumiu o controle das negociações e conseguiu impedir a saída de Múcio, que, agora, se diz fortalecido.
Quando se trata de cargos, um personagem especial sempre trabalha nos bastidores. É o incorrigível deputado Jader Barbalho (PMDB-PA) ¿ apontado por correligionários até como conselheiro do presidente Lula. Para ele, o que vale é conquistar seu espaço, mesmo estremecendo a base de sustentação do governo Lula e deixando para trás caciques do PMDB, como o ex-presidente e senador José Sarney (PMDB-AP). A sede por cargos e poder, comentam aliados, é uma das características do deputado, que responde atualmente a quatro ações penais e dois inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF). As acusações passam por crime contra a fé pública, falsidade ideológica, corrupção, formação de quadrilha, estelionato e lavagem de dinheiro, peculato e crime contra administração pública. Mas nem isso abala o poder de articulação de Jader.
Nos corredores do Congresso, no entanto, muitos parlamentares questionam tamanha influência de um deputado que já estampou páginas de jornais algemado e que renunciou ao mandato de senador para não ser cassado e perder direitos políticos. Nas últimas nomeações do setor elétrico Jader descolou a cobiçada Eletronorte ¿ com orçamento de R$ 5 bilhões ¿ para Lívio Rodrigues, considerado seu braço-direito que estava no Detran no Pará. Sabe-se ainda que Jader tem outros três bons cargos no governo, mas que são tratados com discrição.
¿ É curioso o tamanho da força dele ¿ reconhece o presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), que em seguida desconversa sobre o assunto.